Page 58 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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“Espera  o  Brasil/  Que todos cumprais/  Com vosso  dever-er/  Eia avante,
                                        brasileiros/ Sempre avante/ Gravai o buril/ Nos pátrios anais/ Do vosso poder-er/ Eia
                                        avante, brasileiros/ Sempre avante! / Servi o Brasil/ Sem esmorecer/ Com ânimo audaz/
                                        Cumpri o dever/ Na guerra e na paz/À sombra da lei/A brisa gentil/O lábaro erguei/Do
                                        bravo Brasil-il/Eia sus, oh, sus!”

                  Ao escrever a letra, puxei as sílabas finais das palavras acima-dever e Brasil, porque as grafias musicais,
            nos dois fraseados, trazem sentido completo como se fora o ponto final no encaixe prosódico. Se pararem
            para pesquisar, verão o mesmo efeito no Hino da Independência (ver contente, a mãe genti-il... no horizon-
            te do-o Brasil-il;) e no estribilho: longe vá-a temor servi-il). Nosso Hino Nacional traz muitas apoggiaturas
            (enfeites) que “esticam” as palavras: Gigante pela própria nature-e-za/És belo, és forte, impávido colo-os-so!
            Acontece na segunda parte no encaixe das palavras: fo-or-te; lu-u-ta; as cacofonias são inevitáveis, se não se
            fizer a elisão em nessigualdade; vejam o que se canta: dessáigualdade (ai, como dói o ouvido!) Por mais que
            nosso Duque Estrada cuidasse do encaminhamento paralelo da sua letra à música, que chegou bem antes,
            quando da coroação de Pedro II com pomposo nome de Marcha Triunfal.

                  Se Ana Arcanjo, indignada, cobra o canto da Introdução, além de mostrar, que brasileiro só lembra
            a primeira ignorando a obrigação das duas partes do poema ao ser cantado e na execução orquestrada, a
            música não se repete e não se canta, porque em tonalidades diferentes, segundo decreto, complicaria mais
            ainda atribuir à Introdução uma letra como a do autor Américo de Moura, nos arroubos de seu entusiasmo
            cívico. A meu ver, o próprio nome dá sentido de pequeno trecho orquestrado, que “incita” o desenvolvimento
            musical a seguir. Muito rebato o fato de se executar a Introdução, quando se volta ao canto da segunda parte,
            porque, logicamente, o canto sequencial já a dispensa trazendo sentido de quem já entrou e não precisa sair
            para tornar a entrar...

                  Geralmente, interpretam que se deva fazê-lo, porque o decreto obriga, que se faça na integra, a sua
            execução (o que entendo ser, apenas, a letra!) No que vai aí minha discordância. Questão de interpretação...
            Quanto aos vícios de linguagem e de entonação, nem sempre tivemos, nas escolas, professores especia-
            lizados de Canto Coral. Projeto de Villa Lobos, na era Vargas, incentivou a criação de orfeões, nas escolas
            brasileiras. Naquela época, a Escola de Canto Orfeônico da Praia Vermelha, no Rio, criada por Villa, formava
            professores de música que, portanto, tinham noções profundas da pedagogia musical. Tempos depois, o
            governo não mais abriu vagas a especialistas nas salas de aula. Extinguiu-se por longo tempo a aprendizagem
            do orfeão nas escolas públicas. Arquivou-se a didática motivante, como análise e ordem direta de nossos hi-
            nos pátrios para devida compreensão, sinônimos, rítmica, histórico provocando entusiasmo e compreensão,
            porque não se pode apreciar o que não se conhece. E nem despertar a sensibilidade!



                  COMO SE ELABORA UM HINO?

                  Não se trata de uma sinfonia, algo quilométrico, de fraseados musicais, de difícil memorização. A poé-
            tica pode trazer versos nonassílabicos ou alexandrinos com acentuações nas terceiras, sextas e nonas sílabas
            para equilíbrio letra e música. Parceiros em completa harmonia, são inúmeros. Renato Frateschi, saudoso
            regente e compositor, encontrou em Dr Lúcio Mendonça de Azevedo, secretário” ad eternun” da Prefeitura
            Municipal de Uberaba, o parceiro ideal nas dezenas de composições escritas ou vice-versa, nas composições
            musicais.

                                             “ Há cem anos, bem longe, passados/No planalto da gleba mineira/Sob as
                                        bênçãos dos céus, aclarados/A cidade surgiu, condoreira! Uberaba, nobre terra/Honra
                                        e exalta os filhos teus/ Em tua imagem se encerra/Todo um sorriso de Deus! Santa
                                        Rita desdobra a memória/De altos feitos, no seu campanário /E Uberaba, nas garras da
                                        História/Vive as pompas do seu centenário. ”

                  Festejava-se, em distante 1956, os cem anos de Uberaba. Nós, alunos, em desfile, entoávamos o Hino
            a Uberaba centenária, que a História, tempos depois, refez a data trocando dia, mês e ano por outra data
            natalícia.


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