Page 454 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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do curso. Uma declaração polêmica do então diretor, Ricardo Ernesto de Carvalho, afirmando na imprensa
que a culpa pela falta de professores era do governo do Estado e não da direção da escola, provocou a sua
demissão do cargo e a indicação do cientista alemão Frederico Maurício Draenert. Mais uma vez, em artigo
no jornal Gazeta de Uberaba, Militino Pinto fez uma crítica:
As aulas deveriam iniciar-se no dia 15/08/1896, o que só ocorreu para os alunos
do segundo ano; pelo fato de o corpo docente estar ainda incompleto, as aulas do
primeiro ano só se iniciaram em fins de dezembro, com a troca do diretor da instituição.
Além disso, o crônico problema da falta de animais e de equipamentos ainda pairava
sobre o Instituto: Tal qual como o 1º correu o 2º anno: o laboratorio e gabinetes na
mesma deploravel nudez; o estabulo despovoado, tendo apenas vindo da França,
de Rambouillet, tres indivíduos da raça merino, sendo um carneiro e duas ovelhas; o
deposito de machinas estava preenchido por meia dúzia de enxadas e algumas pás! O
corpo docente estava desfalcado de um substituto e de um chefe dos trabalhos práticos;
ainda assim, no tempo do ex-director, foram feitos alguns canteiros de experiência
onde semearam-se algumas forragens que por distracção o governo forneceu. No
estabelecimento não existia, sequer, uma estampa de zoologia, nem um modelo, nem
um herbário, nem uma collecção para o estudo de geologia e mineralogia e os lentes
tinham de luctar com mil difficuldades para darem aos alumnos Idea do que eram essas
cousas [...] (Gazeta de Uberaba, 03/08/1899, P. 1).
Chegou o terceiro ano de funcionamento e a situação do Instituto continuou a mesma. Pelas dificul-
dades enfrentadas, o compromisso, a capacidade de adaptação e a criatividade dos alunos e professores na
tentativa de amenizar a falta de infraestrutura, eram dignos de respeito e admiração. O depoimento de Militino
Pinto dá uma visão do que foram os três anos de funcionamento da escola:
Si é certo que faltaram todos os recursos para o cabal desempenho da pratica,
o director e os lentes procuraram por todos os meios dar as precisas instrucções e
preencher, mais ou menos, os enormes claros abertos nesta parte do ensino. Para
o ensino de zootechnia, o principal de todo o curso, si não tinha animaes próprios,
mandava-se vir de fora para o necessario estudo pratico e prova de exame; na cadeira de
agronomia, em falta de grandes prados, tivemos algumas experiências de estrumação,
fenação, ensilagem e uma ou outra planta forrageira; na cadeira de chimica agrícola
e biológica, a pratica do illustre professor poude em parte supprir as necessidades do
laboratório, etc.; na cadeira de veterinária, como já foi dito, não havendo hospital nem
pharmacia, tratava-se dos animaes alheios, cujos donos davam remédios, quer na
cidade, quer no Instituto; na cadeira de lacticínios, a mais prejudicada, houve alguma
pratica, fabricando-se algum queijo e manteiga, assim como a dosagem da força do
coalho; em viticultura visitamos vários parreirais, onde o professor esforçava-se por
explicar os phenomenos da evolução desse vegetal, moléstias, fabricação de vinho,
etc. Por conseqüencia, não foram sem resultado os esforços do corpo docente e do
corpo acadêmico salvando do anniquilamento completo o Instituto para o que porfiou
em concorrer o governo passado (Gazeta de Uberaba, 05/10/1899, p. 1).
O período de funcionamento do Instituto Zootécnico foi curto; no entanto, professores e alunos, com-
prometidos com o ensino e aprendizagem, possibilitaram um curso que auxiliou e amenizou problemas
relativos à agropecuária regional.
De acordo com as anotações de Frederico Maurício Draenert, as visitas à Instituição eram frequentes,
principalmente de produtores rurais. Eles procuravam a escola em busca de amparo técnico ou de assistência
veterinária. O professor francês Amedée Cellier era procurado com frequência. Criadores com fazendas dis-
tantes levavam seus animais a fim de que fossem examinados e medicados. O animal ficava sob os cuidados
de um determinado aluno até sua cura completa, processo supervisionado pelo admirado Amedée Cellier.
Mesmo funcionando com parcos recursos, o Instituto Zootécnico em pouco tempo tornou-se respei,-
tado e reconhecido pela população. Em maio de 1897, a pedido dos alunos, a Câmara Municipal aprovou a
mudança do nome da rua que dava acesso ao educandário. De rua das Mercês (atual Afonso Rato), passou a
chamar-se rua do Instituto Zootecnico. (CAM, L.3, 26/05/1897, p. 214).
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