Page 458 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Escreveu artigos para jornais e revistas locais numa impressionante produção científica. Foi ele o cien-
tista que descobriu a existência da bactéria no reino vegetal. Em sessão da Câmara Municipal foi pauta um
ofício de Draenert, no qual ele pedia recursos para publicação de uma obra sobre o algodão. O parecer dos
vereadores:
A comissão de obras públicas, colonização e agricultura; é de parecer do pedido
que faz o cidadão Dr. Frederico M. Draenert, que não seja aprovado o pedido visto que
já é conhecida neste município a cultura do algodão. (Atas da Câmara, l.3, 3-07-1899;
p. 286).
Apesar das ordens vindas do governo de Minas para desocupar o prédio do antigo Instituto, o velho
cientista, agora desempregado e sem possibilidades de receber os salários atrasados, se recusou a sair e
continuou morando no local com a família. A correspondência entre o governo do estado e do município a
respeito da saída de Draenert do prédio foi intensa:
Do Agente Executivo para Draenert.
Comunica-lhe que não é possível que continue usufruindo de um edifício
público pessoa a ele completamente estranha, por isto comunico que quanto antes
faça desocupar do Instituto Zootécnico, lançando mão de meios judiciários de efeitos
mais pronto e eficaz. Certifico-vos mais, que o governo mandou orçar dormitórios para
este instituto demonstrando assim a intenção de breve ocupar esse estabelecimento
para algum outro fim. Convém, portanto, que quanto antes vos mudais, pois voz será
difícil a retirada da família sem prévio aviso. (CAM/AX/1. 9/10/1889, p. 8).
Em fevereiro de 1900 a pressão se tornou intolerável e o professor Draenert deixou o prédio do antigo
Instituto com sua família. Mesmo doente e idoso passou a dar aulas particulares. Apesar dos ganhos parcos,
era uma forma de rendimento.
Professor Particular – Um velho professor com longo tirocínio e pratica do paiz
e já há muitos annos no Rio de Janeiro, auctor de livros didactivos, querendo mudar-se
por motivos de saúde, se offerece a dar lições nas escolas e casas particulares desta
cidade. Especialidade: linguas, historia universal e nacional, geographia e pedagogia. –
Informações com o Dr. F.M. Draenert, Uberaba, rua dos Olhos d’Agua, n. 35. (Lavoura e
Comércio, 10/07/1902, p. 4. Riccioppo, 2007, p. 221).
Persistiu na pesquisa e realizou importantes trabalhos de meteorologia. Até o ano de sua morte, em
1903, produziu excelentes artigos como este publicado no Almanaque Uberabense. Entre outras observa-
ções, afirmou:
(...) um interessante phenomeno são as trombas de terra no planalto de UBERABA;
são pequenos cyclones ou turbilhões locais que levam para cima em movimento
especial o pó vermelho, folhas, galhos pequenos, a roupa pendurada na corda e às
vezes arrancam telhas dos telhados, elas percorrem somente poucos quilômetros.
Pelo pó vermelho se tornam vizíveis e se as observa distintamente, pouco a pouco,
alargando-se em rodopio, desaparecerem para a vista nas alturas atmosféricas. Do
Instituto Zootecnico vimos formarem-se algumas à leste, do Alto do Fabrício e passarem
por cima da cidade para oeste ou sudoeste. Ellas só aparecem nas estações secas, de
maio a setembro. Em junho e julho observaremos durante 4 anos, duas, relativamente
três destas trombas. Nos primeiros três anos o lugar de nossas observações no instituto
zootécnico foi mais favorável. Tivemos ocasião de observar n’este período sete trombas,
nos dous primeiros anos até cinco. No Alto do Fabrício, onde o horizonte está limitado
por casas, observamos, no ano de 1900 somente uma tromba, que passou por cima da
nossa casa. (DRAENERT, 1903, p. 190).
Apesar de sua curta permanência, o Instituto Zootécnico de Uberaba não foi um fracasso. Atuou como
núcleo gerador de homens produtivos social, cultural e politicamente. Auxiliou produtores pecuários e agrí-
colas quando fixavam e expandiam suas produções na cidade e região de Uberaba.
Sua extinção foi sentida por muitos. O Instituto, além de uma escola de qualidade, era motivo de or-
gulho para a cidade, por abrigar o único curso de nível superior da região. Sua extinção precoce se deveu a
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