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Em fins de 1897, começaram a circular rumores sobre a possibilidade de fechamento da escola. A im-
prensa começou a abordar o tema:
Um amigo nosso residente em Bello Horizonte ouviu dizer de pessoa conceituada
que é provável ficarem supprimidas por algum tempo as funcções deste notável
estabelecimento de ensino e eu o governo cogita seriamente a este respeito. Pedindo-
nos as necessarias reservas sobre o que occorre nesse sentido, accrescentou o nosso
informante que além das difficuldades financeiras que assoberbam o erario publico, um
outra surgiu há pouco tempo e consiste na falta de disciplina e ordem indispensáveis em
estabelecimentos de instrucção como o nosso Instituto. E’ profundamente lamentavel
si traduzir-se em realidade a suppressão desse estabelecimento. (Gazeta de Uberaba,
23/12/1897, p. 1).
Segundo Hildebrando Pontes, a questão da falta de disciplina citada no artigo era resultado de diversos
incidentes: rivalidades políticas, reclamações de alunos contra supostas perseguições promovidas por alguns
professores, discussões entre funcionários e o diretor, sabotagens de alguns alunos contra plantações de
milho da escola e embates políticos que terminaram em agressões físicas.
No dia 05/06/1898 houve a colação de grau e a entrega dos diplomas de engenheiro agrônomo aos
alunos da primeira e única turma formada no Instituto Zootécnico de Uberaba. Os agrônomos formados no
Instituto se destacaram na sociedade uberabense e até nacional. Mesmo com todas as dificuldades, a atua-
ção dos novos agrônomos formados pelo Instituto foi intensa e importante na sociedade e na agropecuária
de Uberaba. Atuaram diretamente no melhoramento do gado, nas pastagens e em novas técnicas de plantio.
Os criadores almejavam a melhoria de suas criações e produções. A demanda pelos serviços dos profissio-
nais em agronomia era grande. Este fato possibilitou a valorização profissional dos agrônomos, tornando-os
destacados na sociedade.
A turma era composta dos seguintes alunos: José Maria dos Reis, Fidélis Gonçalves dos Reis, Militino
Pinto de Carvalho, Hildebrando de Araújo Pontes, Delcides de Carvalho, Otávio Augusto de Paiva Teixeira, Luiz
Ignácio de Sousa Lima e Gabriel Laurindo de Paiva.
Em agosto de 1898, após a formatura da primeira turma de engenheiros agrônomos, encontravam-se
matriculados dez alunos no Instituto, distribuídos entre 1º, 2º e 3º anos. Além desses, outros alunos frequen-
tavam as aulas como ouvintes. Neste último ano de funcionamento o Instituto Zootécnico de Uberaba foi
praticamente deixado de lado pelo governo. Faltava tudo: material didático, equipamentos, recursos para
manutenção dos serviços. Veja o comentário de Militino Pinto:
Triste e desolador era o aspecto do Instituto Zootechnico desta cidade aos
fechar-se o cyclo de sua existencia e por todas as subdivisões do edifício, pelos
campos, etc., tudo indicava uma pobreza lastimável, verdadeira indigência oriunda de
uma administração que sacrificava os legítimos interesses vitaes do Estado [...] (Gazeta
de Uberaba, 10/08/1899, p. 1).
Hildebrando Pontes afirmou que terminando o mandato, em 05/09/1898, o presidente mineiro, Cris-
pim Jacques Bias Fortes (1894 a 1898), suspendeu as aulas na Instituição. Hildebrando Pontes, graduado no
Instituto, diz que o motivo para o fechamento se deveu a disputa entre integrantes do Partido Republicano
Mineiro (PRM), que resultou na separação dos seus componentes em dois grupos. Depois disso, “seguiu-se
uma forte campanha política pelo município todo, registrando-se nesse período muita perseguição e muita
vingança”. Essa disputa política atingiu os professores e alunos do Instituto Zootécnico, que se dividiram em
dois grupos antagônicos, sendo que, algumas vezes, chegavam às agressões físicas entre eles. Diante das de-
núncias e das constantes demissões de secretários, o presidente da província resolveu encerrar as atividades
do Instituto Zootécnico.
Já o memorialista José Mendonça, afirmou que o encerramento das atividades do Instituto aconteceu
em decorrência de uma reação do governo do Estado, à fundação do “Partido da Lavoura”, em Uberaba,
pelos alunos do Instituto Zootécnico. O partido foi criado para combater o imposto territorial cobrado pelo
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