Page 451 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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por toda a parte, onde ainda não chegou a Estrada de ferro. É preciso, porém, para
que o auxilio do Estado se torne efficaz, que elle seja methodicamente ministrado.
Deve-se começar pela creação de uma instituição de ensino modesta, mas dotada de
terreno, animaes, e material industrial e therapeutico. O plano de um instituto dessa
espécie, approvado no anno passado na Camara dos Deputados e que ora se discute
no Senado, contém precisamente as bazes de uma organisação que não pode deixar
de produzir os mais benéficos resultados. (Gazeta de Uberaba, 21/05/1892, p.1 aput
Riccioppo, 2007, p. 226).
O documento abaixo apresenta o comércio de gado de Uberaba em alta no momento da criação do
Instituto. Já se realizavam feiras e venda do gado. O dinheiro circulava, existiam empréstimos e outras tran-
sações econômicas.
Tomando a Câmara em consideração por sêr de completo e comum acordo
deliberou que se fizesse em acto continuo a representação nesse sentido esclarecendo
que esta cidade é interposto comercial comprehendendo grande parte dos Estados de
Mato Grosso e Goyaz, convergindo para aqui todo o gado destinado ao abastecimento
da Capital Federal e Municipios intermediários importados das zonas pastoris dos
referidos Estados, sendo nesta cidade que tanto os boiadeiros e creadores como os
invernistas do centro e das Comarcas circunvizinhas realisam imprestimos e outras
transações, calculando-se transitar anualmente neste município para mais de oitenta
mil rezes, importando, termo médio, na considerável soma de seis mil contos de réis,
resultando grande renda para o Estado, sendo aqui estabelecida a feira e outras grandes
vantagens em relação ao activo e importante comercio de gado que este município tem
com o Estado de São Paulo e a Capital, acrescentando que este municipio inteiramente
pastoril, exporta para mais de dez mil rezes anualmente, creadas ou custeadas nas
respectivas fazendas com desvelo no melhoramento da raça bovina, facilitando
também em todos os sentidos os interesses do fisco. Tendo assim deliberado, foi em
continente feita e assignada a dita representação; (CAM EI L.3, 23/10/1895, p. 196 v).
O Instituto foi inaugurado em 14 de agosto de 1895, sob a direção do engenheiro agrônomo Ricardo
Ernesto Ferreira de Carvalho. Porém, só foi regulamentado pelo Decreto 975, de 27 de outubro de 1896, mais
de um ano após o início das aulas naquela Instituição. Em seu artigo primeiro, o regulamento afirma:
Art. 1º. O Instituto Zootechnico de Uberaba tem por fim especial:
1º.preparar profissionaes para a industria criadora e para as mais importantes que
se utilizam dos productos animaes;
2º. ministrar uma instrucção agrícola geral, theorica e pratica aos alumnos que
o freqüentarem de modo a espalhar o mais possível no paiz os conhecimentos de
agricultura racional;
3º. estudar praticamente os meios de melhorar as raças de animaes do paiz, nos
diversos pontos de vista da carne, do leite e do trabalho;
4º. fornecer aos criadores reproductores de bôa raça, que para a cobrição no
estabelecimento ou em postos estabelecidos nos municípios, quer por venda de
animaes importados do extrangeiro ou educados no Instituto;
5º. desenvolver a cultura das plantas forraginosas apropriadas á alimentação dos
animaes. (Jornal Minas Gerais, 1896, p. 350 aput Riccioppo, 2007 p.199).
Os professores estavam engajados numa nova concepção de educação, consoante com o pensamen-
to de modernidade. Buscavam propiciar aos alunos a possibilidade de reforçar e expandir os conhecimentos
adquiridos com aulas práticas realizadas no período da tarde.
De acordo com a emenda que criou o Instituto, o curso de engenheiro agrônomo deveria durar três
anos, em período integral, e manter as seguintes disciplinas:
1º ano – (teoria) zoologia, zootecnia geral, botânica, física elementar, meteorologia,
mineralogia, geologia, química mineral elementar, (prática). Determinação prática dos
minerais e rochas mais comuns, determinação das plantas mais usuais na agricultura,
preparação e experiências simples de química, montagem, uso e emprego das
máquinas agrícolas, trabalho de cultura.
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