Page 434 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Havia uma grande preocupação e pressão do governo imperial sobre o governo das províncias, para
conhecer a realidade econômica dos municípios. Para isso, sempre requeriam informações dos municípios,
viabilizando diretrizes para seu desenvolvimento. Diversas correspondências dos governos de Minas Gerais
enviadas à Câmara Municipal de Uberaba, a partir da década de 1840 confirmam a preocupação em conhe-
cer a situação econômica de Uberaba. Como exemplo, em documento de 1845, o brigadeiro Francisco José
Soares Andreia, político no período Imperial, solicitou a Quintiliano José da Silva, presidente da província de
Minas Gerais (1844-1847), que obtivesse informações sobre Uberaba. A Câmara Municipal ofereceu, por meio
de ofício, sua leitura do cenário agropecuário e da produção de manufaturados da vila, além de uma descri-
ção de aspectos da geografia local, conforme transcrição a seguir:
Ilmo senhor
15 de dezembro de 1845. A câmara municipal desta villa em saptisfação ao que
v.excia. lhe ordenou em portaria de 8 de outubro próximo passado tem a honra de
informar a v. excia, os ramos da industria deste municipio. são alguns tecidos lisos
e trançados, em ponto pequeno. Os ramos da agricultura são milho, feijão, arroz,
mamona, mandioca, cana, algodão, que se consomem neste municipio, a exepção
de porcos que são exportados para diferentes partes da província, onde se levão
e se dirigiam para o mercado do Rio de Janeiro, cujo produto ignora esta câmara,
por não estar afeitto della; e os meios mais adequados para lhes dar o necessário
desenvolvimento são o aumentos de braços applicados ao antedito ramo. O terreno
deste municipio compõem-se de montes e planices, compostos de matta e campos
abundantes de madeira de lei como serão arueiras, balsamos, cedros, perobas,
carvalhos e outras muitas, sendo os campos proprios para criar. Toda a raça de gado
muar, vaccum e cavallar e lannigero que existe lhe decendente do sul, do paraná, de
goiás e de ambos os paises a qui prosperão. O municipio possue boas ágoas doces, as
quais são impregadas nos engenhos de serra, canna, moinhos, monjollos, e algumas
salinas as quais servem para a criação de animais [...]
Paço da Câmara Muncipal da Villa de Uberaba. Ilmo. Excia. Sr. doutor Quintiliano
José da Silva, presidente da província. (CAM/AR L.1 pp. 26, 26 v e 27). - Acervo da
Superintendência do arquivo Público de Uberaba
Em relação à pecuária, era comum a Câmara receber comunicados solicitando aplicação de medidas
que deveriam ser adotadas pelos criadores. Eram muitas as exigências aos fazendeiros da cidade. O objetivo
era a melhoria na qualidade do rebanho e da produção em geral. Procuravam estimular a utilização dos re-
cursos tecnológicos já empregados no setor, em outros países.
[...] ordenando que a Câmara remetta, com brevidade, huma expuzição
circonstanciada em que declare quaes os melhoramentos que se tem obtido na
criação da raça de gado vacuum ou cavalar e lanigera, quais as fabricas de tecidos do
município e finalmente se há amoreiras próprias para a criação do bicho da seda. (cam/
ax. l.1,1858; p.27). Acervo da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba
[...] leu e aprovou-se uma representação dirigida para assembléia geral legislativa,
solicitando medidas concernentes a melhorar o estado dos criadores e boiadeiros
deste sertão, acobertando-os por qual quer forma de monopólio dos marchantes de
corte. (cam/ax, l.1, 1858; pp. 98 v e 99). Acervo da Superintendência do Arquivo Público
de Uberaba
O gado existente na região era o europeu, raça que não se adaptou às condições climáticas. O me-
morialista Hildebrando Pontes fez um estudo sobre as variedades de animais bovinos que povoaram o Brasil
Central. Conta Pontes que o Norte foi povoado pela raça Malabar, a Bahia pela Minhota ou Galeza. O Sul, por
outro tipo de Galeza, de procedência espanhola. Mais tarde foi introduzida outra raça portuguesa: a Alenja-
tana, que em Minas ficou conhecida por Pedreira e na Bahia por Indígena. No princípio do século XIX, João
Francisco trouxe outra espécie de Portugal. Esse gado, cruzado com vacas de Minas Gerais, ficou conhecido
como Junqueira ou Crioulo. Antes do “Junqueira” criadores de Araxá adquiriram uma raça bovina denomina-
da Bruxa. Esse foi o gado mais antigo do Triângulo. Em 1826, chegou ao Rio de Janeiro uma nova raça, o Nilo.
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