Page 432 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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O estabelecimento do major Eustaquio no arraial de Santo Antonio e São Sebastião propagou-se na
            região, principalmente pelo fato de que ele oferecia proteção para os colonos e índios mansos, além de
            viabilizar a expulsão dos índios rebeldes para longe do arraial e combater os quilombolas. Uma observação
            a considerar se refere à historiografia atual que discute a opressão que os índios e quilombolas sofreram,
            por não aceitarem a dominação dos brancos. Consequentemente, grande número de pessoas e famílias do
            Desemboque e do arraial da Capelinha, sabendo das condições propícias do novo arraial e do prestígio e se-
            gurança que o comandante major Eustaquio oferecia, migraram lá. Era uma população muito heterogênea:
            mineiros que se estabeleceram como fazendeiros, boiadeiros, mascates, comerciantes, criadores de gado,
            ferreiros e até criminosos foragidos. O fundador de Uberaba autorizou, em 1812, a construção da capela e
            um cemitério, no mesmo local, uma tradição das autoridades eclesiásticas, localizada na Praça Frei Eugênio,
            onde se localiza hoje a Escola Minas Gerais. A capela manteve os mesmos oragos do arraial da Capelinha, ou
            seja, Santo Antonio, devoção de major Eustaquio e São Sebastião, o protetor do gado. È importante destacar
            que as edificações no arraial foram construídas em terrenos aldeanos.

                  A econômica de subsistência foi desenvolvida para atender a demanda de alimentação, muito embora
            a pecuária e a suinocultura também fossem atividades praticadas nesse universo, visando a alimentação e
            transporte. Portanto, a pecuária foi introduzida juntamente com a fundação do arraial. Com o desenvolvi-
            mento das atividades econômicas muitos passaram a produzir e comercializar com as caravanas que ligavam
            Goiás a São Paulo.

                   No processo de colonização do arraial de Santo Antonio e São Sebastião formaram- se muitas pro-
            priedades rurais, a maior quantidade no Triângulo Mineiro, fator decisivo no desenvolvimento da pecuária.
            Bustamante, mestre em geografia argumenta em seu livro que:

                                              O mundo de Antônio é representativo da ampla maioria das unidades rurais do
                                        Triângulo Mineiro de então: produção dependente de forma quase integral da força
                                        de trabalho humana e da tração animal, baixo investimento na aquisição de bens de
                                        capital e subordinação total das atividades agrícolas e de pastoreio à disponibilidade de
                                        recurso naturais. (LOURENÇO. P. 128).

                  Segundo as historiadoras Maria Antonieta Borges Lopes e Eliane Mendonça Marquez de Rezende, re-
            ferindo-se aos primórdios da colonização do arraial argumentam: “Grande parte de seus moradores dedica-
            va-se à atividade pastoril. Era a pecuária, e não a agricultura de subsistência, a primeira opção econômica do
            povoado”. (LOPES, REZENDE. p. 20).

                  O viajante francês Auguste de Saint-Hilaire registrou no livro Viagem à Província de Goiás, que ao passar
            com a expedição pelo arraial de Santo Antonio e São Sebastião, em 1819, observou que havia grande atividade
            pecuarista na região:


                                             As pastagens nas cercanias de Farinha Podre são tão boas que, apesar da
                                        prolongada seca que ainda se fazia sentir quando passei por lá, os campos queimados
                                        estavam  cobertos  por  um  espesso  tapete  verde  e  viçoso.  Os  colonos  da  região
                                        souberam tirar proveito dessa enorme vantagem. A criação de ovelhas, de porcos e
                                        principalmente  de  bois constitui  sua  principal  ocupação,  sendo que  vários  deles  já
                                        possuem de 500 a 1.000 cabeças de gado (1819). Os negociantes de Formiga, que não
                                        é demasiadamente distante do arraial, costumam vir até ali para comprar bois e em
                                        seguida enviá-los à capital do Brasil. (HILAIRE. p. 151).

                  Os inventários dessa época retratam propriedades, em sua maioria compostas pelo chamado gado
            “vacum”, áreas de cultura e de criação. As fazendas de pecuária foram a principal forma de ocupação do Tri-
            ângulo Mineiro nos primeiros anos do século XIX.

                  A população urbana e das zonas rurais do arraial de Santo Antonio e São Sebastião se desenvolveu
            economicamente e cresceu rapidamente, o que permitiu que o arraial fosse elevado à condição de Freguesia
            em 2 de março de 1820 e à Vila em 22 de fevereiro de 1836. Em 2 de maio de 1856, alcançou a categoria de
            cidade.



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