Page 260 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Corpo de Voluntários da Pátria, enfrentou a fome, a doença e a perseguição das tropas paraguaias, fato que
obrigou a retirada da tropa do campo de batalha. O fato passou a ser conhecido como Retirada da Laguna.
Alfredo Taunay em suas memórias descreve as agruras que passaram os participantes da Retirada da
Laguna e deixa um trecho que resume bem a situação, com poucos recursos médicos, que os combatentes
e acompanhantes enfrentaram na guerra. Na mesma obra, registrou, também, que as mulheres, mesmo dian-
te das doenças, não tinham quaisquer direitos, nem a cuidados, nem a remédios e, muito menos, a abrigo:
Nesse mesmo dia 28 morreram algumas mulheres, mais desamparadas ainda do que os outros doentes, mais
despidas de qualquer socorro e, por causa de sua natural fraqueza, mais assinaladas com o estigma da última
miséria. (TAUNAY. 1959, p. 50)
Apesar dos esforços da coluna do coronel Camisão e da resistência organizada pelo presidente da pro-
víncia, que conseguiu libertar Corumbá, em junho de 1867, a região invadida permaneceu sob o controle dos
paraguaios. Só em abril de 1868 é que os invasores se retiraram, transferindo as tropas para o principal teatro
de operações, no sul do Paraguai.
Posteriormente, em 1869, a Coluna seguiu para Assunção, aonde chegou em 05/08/ 1869. Após guar-
necer a praça de Humaitá, nos princípios de 1879, reduzido a um pequeno destacamento, o 17º Corpo de
Voluntários da Pátria embarcou de volta, chegando ao Rio de Janeiro no dia 23 de fevereiro, onde foi festiva-
mente recebido pela população da cidade, exaltando o regresso dos heróis componentes do Corpo Policial
de Minas, representado na Guerra do Paraguai pelo 17º Corpo de Voluntários da Pátria.
Paulo Fernando Silveira relata em seu livro Sertão da Farinha Podre – Uberaba e a Guerra do Paraguai
sobre a “Força Expedicionária”:
[...] essa força expedicionária percorreu, a partir de Uberaba, até Laguna, onde se deu o
encontro com as tropas paraguaias, um total de 284 léguas (1.704 km). Nesse percurso,
foram gastos 540 dias, numa viagem prevista para 90 dias pelos burocratas do Rio
de Janeiro. Além de não proporcionarem a logística necessária, eles desconheciam
completamente as dificuldades para se superar a realidade do relevo, das matas, dos
rios e das inundações, dessa, até então, desconhecida região do país.
SILVEIRA. O Sertão da Farinha Podre – Uberaba e a Guerra do Paraguai. p. 264
A composição dessa força expedicionária que seguiu para a Guerra do Paraguai, em sua maioria era
constituída de mineiros, que na maior parte eram os “Voluntários da Pátria”, pessoas humildes, entre elas:
mulheres, crianças, escravos, carreteiros e bagageiros. Enfrentaram um sertão inóspito, onde numa vastíssima
região de pantanais foram acometidas pela fome, cólera, tifo e beribéri e por isso forçados a retirar-se sob
os constantes ataques da cavalaria paraguaia, que utilizou táticas de guerrilha, infligindo perdas severas aos
brasileiros. De um efetivo de cerca de 3.000 homens, retornaram às linhas brasileiras em Coxim, em junho de
1868 apenas 700 homens, alquebrados pela doença e pela fome.
Uma mulher negra uberabense, conhecida como “Preta Ana”, companheira de um soldado se destacou
na tropa pela grande assistência aos doentes e feridos, além de lutar contra os paraguaios em Laguna, vindo
a falecer em combate.
Alaor Ribeiro, ex-subcomandante do 4º Batalhão e advogado, escreveu um artigo que faz menção à
”Preta Ana”, lutadora na Guerra do Paraguai, a seguir:
Nesse clima apocalíptico aparece a figura de Preta Ana, escrava forra, negra como as
asas da graúna, heroína uberabense [...] Sua alma não se abate. Mas, seu físico faminto
e cansado rouba-lhe as forças e cai nas trilhas improvisadas. É abandonada na estrada.
Uma patrulha inimiga a encontra estirada, semimorta. Ana ainda tem nas mãos sua
arma. Dispara um tiro a esmo e acidentalmente acerta um soldado paraguaio. Os
últimos retirantes ainda escutam alguns estampidos de misericórdia dados naquela
baliza e marco entre duas colunas de combatentes que regressam à sua pátria [...]
Jornal da Manhã. Alaor Ribeiro. 01/06/2004, p.2
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