Page 255 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Uberaba organizou as tropas da cidade e recebeu as outras vindas das mais diversas regiões do País. O
maior contingente era formado pelos mineiros. Toda essa movimentação colocou a cidade em evidência e
provocou intenso comércio e rápido crescimento populacional.
As forças expedicionárias deveriam em Uberaba receber importante contingente da Guarda Nacional. A
conclamação dos voluntários, cidadãos, a mocidade e guardas nacionais eram realizadas de forma patriótica,
como também exaltava os serviços prestados e os sacrifícios em prol da nação.
Henriques Raymundo des Genettes era agente executivo de Uberaba, no período de 1865 a 1869, e
prestou serviço como médico no 32º Batalhão de Guardas Nacionais de Uberaba, durante a Guerra do Pa-
raguai. Em apoio, promoveu o alistamento de voluntários da Pátria para se incorporarem à Guarda Nacional,
tendo em vista a organização do sistema de defesa militar diante da invasão do Paraguai no território do Mato
Grosso (atual Estado do Mato Grosso do Sul), pelas tropas do Paraguai, em 12 de fevereiro de 1865. Também
criou o fundo de assistência para garantir o socorro aos soldados feridos em combate.
Entretanto, alguns fatos provocaram baixas e deserções de soldados como: a apresentação sem fardas
e sem espadas dos recrutas mineiros, aquartelados em Uberaba que provocou embaraços aos vereadores e
algumas deserções na força expedicionária, além das vítimas da varíola. Consta que quase um terço da po-
pulação uberabense entre soldados e civis foram vítimas da varíola nessa época. A Câmara Municipal cons-
truiu um lazaredo fora da zona urbana e transferiu os doentes para evitar a contaminação da população por
doenças infectocontagiosas. Com a epidemia, a população rural deixou de vir à cidade, ocasionando certo
prejuízo para o comércio.
Apesar do recrutamento de voluntários, houve muitas deserções, causando indignação a Des Genettes,
conforme relata José Mendonça:
O cirurgião da Guarda Nacional aquartelada (Dr. des Genettes) andava furioso e debalde
gastava eloquência, tentando comprimir e atalhar os contínuos acessos de terror de
sua brava gente. Nada conseguiu e, no fim de pouco tempo, tudo quanto enchera o
quartel se havia evaporado, levando, por cima, o fardamento distribuído, utensílios de
campanha, cantinas, cinturões e o armamento! A debandada fora completa, diremos
até conscienciosa. (MENDONÇA, p. 96)
As tropas que se aquartelaram em Uberaba para seguirem para a guerra contra o Paraguai ergueram
entre os meses de julho a agosto em 1865 o “Cruzeiro do Cachimbo”, no bairro Fabrício, próximo onde hoje
está instalado o 4º Batalhão, considerado um marco histórico, para a celebração da missa em intenção ao
Corpo Expedicionário que seguiu para a guerra. A cruz foi feita de madeira nobre de aroeira, em estilo rústi-
co, medindo cerca de cinco metros de altura, encimado por galo em chapa de ferro e fixado sobre base de
pedras tapiocangas, tornou-se um símbolo de fé e futuras peregrinações ao lugar. Permaneceu por muito
tempo próximo ao Córrego do Cachimbo, local que se tornou um símbolo de fé, sendo muito visitado.
Porém, com o processo de urbanização e o surgimento dos loteamentos, o Cruzeiro passou a integrar um
terreno na Rua América. Posteriormente, a peça foi recuperada e o Cruzeiro instalado na Praça João de Vito,
no Bairro Fabrício. Este local era visitado e os fiéis acendiam velas próximas à madeira, fato que ocasionou a
queima e tombamento do Cruzeiro. Diante disso, a peça danificada foi levada para o depósito da Prefeitura de
Uberaba e depois para a garagem da Fundação Cultural, na Rua Segismundo Mendes, em frente à Igreja São
Domingos. Em 1987, por iniciativa da Superintendência do Arquivo Público, a peça foi inventariada pelo Con-
selho Deliberativo do Patrimônio Histórico e Artístico de Uberaba. No ano de 2002, o Cruzeiro do Cachimbo
foi restaurado e depois encaminhado para a Casa do Conselho (FCU). Em 2014 sofreu outro restauro para ser
colocado definitivamente em frente ao 4º Batalhão da Polícia Militar, na Praça Magalhães Pinto, constituindo
um marco histórico inestimável para Uberaba e para o Brasil.
O visconde de Taunay era 2º tenente de artilharia da Comissão de Engenheiros e integrou o corpo ex-
pedicionário, comandada pelo coronel Manuel Pedro Drago.
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