Page 256 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Taunay relatou em cartas que enviou à sua família, o universo de Uberaba e do Triângulo Mineiro, re-
gistrando os acontecimentos dos lugares por onde passou e também sobre a Guerra do Paraguai. Posterior-
mente as cartas foram reunidas em um livro chamado Cartas de Campanha de Mato Grosso e publicadas
pela Biblioteca Militar em 1942. Seguem alguns trechos das cartas que relatam os fatos relacionados à Força
Expedicionária de Uberaba, em 1865:
Tínhamos real ansiedade em chegar a Uberaba, desejosos de conhecer os elementos
da brigada mineira, que ali viera a ter de Ouro Preto, sob o Comando do coronel José
Antônio da Fonseca Galvão e estava à nossa espera.
Da junção destes dois contingentes ao nosso, vai constituir-se o nosso corpo
expedicionário.
Aqui estavam aguardando a nossa vinda os corpos fixos (21 de linha) e o policial da
Província de Minas Gerais e o batalhão de voluntários, número dezessete.
São poucos mais de 1.200 homens, segundo ouvi dizer. Uberaba, situada na aba de
extensos chapadões, ergue-se pela encosta de dois deles, o que faz com suas ruas
sejam sobremodo regulares em seu nivelamento péssimo.
Há, porém, tal ou qual respeito pelas boas regras do alinhamento. Quanto ao calçamento,
dele não se encontra o mínimo vestígio, na cidade. Têm as casas mesquinhas aparência
e são, quase sempre, de pau a pique, empregando com profusão aroeira, que abunda
pelas vizinhanças e é madeira de lei de primeira ordem.
José Mendonça. O visconde de Taunay. Caderno 1. Janeiro 1964. p.17 – ALTM
Taunay fez inúmeros relatos, entre eles, o que está contido em seu livro Memórias, que faz menção às
tropas. Registrou em seu diário, a Missa Campal que assistiu no Cachimbo:
Acampara a coluna expedicionária a meia légua da cidade, num lugar espaçoso
chamado “Cachimbo”, juntando-se aí os batalhões em casco, que tinha vindo conosco,
à bela e bem organizada brigada trazida de Ouro Preto pelo coronel José Antônio da
Fonseca Galvão.
Foi aí que pela primeira vez vi esse velho chefe militar o qual tinha, não sei por que, o
apelido de “Pastorinha”.
Nesse acampamento assisti, num domingo, a uma missa campal, que me produziu
grande emoção. Não pude reter as lágrimas quando - formadas as forças em semicírculos
em redor de uma barraquinha, ornada de folhas de palmeiras -, ao levantar da hóstia,
símbolo da suprema humildade, romperam todas as músicas, o “Hino Nacional” e
cornetas, clarins e tambores tocaram marcha batida em continência ao general chefe,
ao passo que a artilharia salvava.
Cartas de Campanha de Mato Grosso - 1865 a 1866. Edição Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro. 1944.
Em diversas Atas da Câmara Municipal de Uberaba foram registradas a necessidade da inscrição para o
recrutamento de voluntários para a Guerra do Paraguai e as afrontas que o Brasil recebia do Paraguai, trans-
critas na íntegra, a seguir:
O vereador Alves de Oliveira indicou que devido às notas trocadas entre o Governo
brasileiro e a legação Britânica, são as injustas reclamações feitas ao nosso Governo,
pelo Delegado do Governo Inglês, constituído por isso o governo de S. Majestade o
Imperador, na dura necessidade de sustentar os direitos e dignidade da Nação Brasileira,
é evidente que a Câmara Municipal da cidade de Uberaba e todos os seus munícipes,
dotado igualmente do sagrado estimulo brasileiro, deixe de mostrar que esse estimulo
chegou até nós e de certo chegará aos mais remotos pontos do Império, visto que a
razão e a justiça está sem duvida do nosso lado, por isso passarei a lembrar qual a norma
do nosso procedimento, a seguir. 1º dirigirmos um voto de aprovação e agradecimento
ao Governo Imperial, pela maneira com que soube sustentar os direitos da Nação. 2º
promover uma subscrição para ajudar nas despesas que por ventura houver de se fazer
para este fim. 3º e ultimo que promova a inscrição de voluntários que queiram prestar
a defesa da Pátria ameaçada. A qual foi aprovada, deliberou a Câmara, dois livros para
o fim indicado marcando-se os dias em que deverão ter lugar semelhantes trabalhos;
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