Page 261 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Anatólio Alves de Assis, em seu livro Pequena História do Paraguai escreveu sobre “Preta Ana”:
                                          O nome desta criatura é Ana. Uma negra muito sacudida, talvez não tenha mais que 25
                                          anos de idade.
                                          [...] Ora, são as mulheres e as crianças, que, escondidas debaixo das carretas, gritam,
                                          choram, gemem e reza!
                                          [...] Entre essas mulheres, uma, contudo, se sobressai. É a preta Ana. Simples companheira
                                          de um soldado do Corpo Policial, que, por sua vez, é ordenança do Tenente Raimundo
                                          Fernandes Monteiro Júnior. Ela participa da caminhada desde a distante Uberaba.
                                          [...] Ana, a mulher de cor, com seu desvelo está em toda parte. Ela é o anjo bom da
                                          coluna.
                                          [...] Nisso alguém grita; “Acode, Ana, seu marido está morrendo!”. Num instante ela se vira,
                                          procurando o companheiro estendido logo atrás da muralha formada pelas baionetas
                                          dos soldados do Corpo Policial de Voluntários da Província de Minas, integrados que
                                          estão no 17º. Um golpe de lança varou-se de lado a lado.
                      Conforme registrou Alfredo Taunay, na Retirada da Laguna:

                                          Quando alguma mulher saía do anonimato, era porque havia demonstrado algum ato
                                          de heroísmo, como o de Ana Preta, que, mesmo assim, só teve direito ao primeiro
                                          nome, sendo a etnia lembrada com preconceito, o que a remetia a grupos sociais de
                                          origem humilde:
                                          A preta Ana, mulher de um soldado, antecipara nesta obra caridosa os cuidados da
                                          administração militar. Colocada, durante a ação, no meio do quadrado do 17º, desvelara-
                                          se por todos os feridos que lhe traziam, tomando ou rasgando das próprias roupas o
                                          que faltava para os pesar e ligar, proceder tanto mais digno de nota e de admiração,
                                          quanto fora o da maioria das companheiras miserável.
                                                TAUNAY, Alfredo. A Retirada da Laguna. São Paulo: Biblioteca do Exército, 1959, p.37.
                     Michele Perrot, registrou no livro As Mulheres e o silêncio da História:


                                          [...] que é o olhar que faz a história. No interior de qualquer relato histórico, há a vontade
                                          de saber e de mostrar a importância de todas as personagens perdidas no tempo e sem
                                          história. No que se refere às mulheres, essa vontade foi por muito tempo inexistente.
                                          Escrever a história das mulheres supõe que elas sejam levadas a sério, que se dê à
                                          relação entre os sexos um peso, ainda que relativo, nos acontecimentos ou na evolução
                                          das sociedades.
                                                PERROT,  Michele.  As  mulheres  e  os  silêncios  da  História.  Bauru,  São  Paulo:
                                          EDUSC, 2005, p.14.
                     A tropa foi perseguida pela cavalaria paraguaia e forçada a retirar-se em 11/06/1867 da batalha. Este epi-
               sódio ficou conhecido na história como a “Retirada da Laguna”. Fato ocorrido entre 08 de maio e 11 de junho
               de 1867, durante a Guerra da Tríplice Aliança, teve início na fazenda Laguna, de propriedade de Solano López,
               situada no Paraguai, e percorreu uma vasta área compreendida pelos atuais municípios de Bela Vista, Antônio
               João, Guia Lopes e Nioaque, no território do atual Estado do Mato Grosso do Sul.
                     A Retirada da Laguna foi imortalizada na literatura pela pena de um de seus protagonistas, o visconde de
               Taunay. Nasceu, assim, uma grande obra intitulada La Retraite de Lagune - Épisode de la guerre du Paraguay,
               impressa em 1871, e que viria a tornar-se um dos grandes clássicos da vasta literatura que apresenta como
               pano de fundo o mais importante conflito bélico ocorrido no continente americano.
                     No capítulo I do livro, Taunay registrou:


                                                                        A RETIRADA DA LAGUNA:
                                                                               CAPÍTULO I

                                          Formação de um corpo de exército destinado a atuar, pelo norte, sobre o alto Paraguai.
                                          Distâncias e dificuldades de organização.
                                          Para dar uma ideia, algum tanto exato, dos lugares onde, em 1867, ocorreram os
                                          acontecimentos cuja narrativa se vai ler, convém lembrar que, ao finalizar de 1864,



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