Page 264 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Com o término da Guerra do Paraguai não houve um tratado de paz em conjunto. O Brasil não aceitava
as pretensões da Argentina sobre uma grande parte do “Grande Chaco”, região paraguaia rica em quebracho
(produto usado na industrialização do couro). A questão dos limites entre o Paraguai e a Argentina foi arbi-
trada pelo presidente dos Estados Unidos Rutherford Birchard Hayes. O Brasil assinou um tratado de paz em
separado com o Paraguai em 9/01/1872, obtendo a liberdade de navegação no rio Paraguai. Foram confir-
madas as fronteiras reivindicadas pelo Brasil antes da guerra. Estipulou-se também uma dívida de guerra, que
foi perdoada somente em 1943.
Em dezembro de 1975, quando os presidentes Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner assinaram em As-
sunção, um Tratado de Amizade e Cooperação, o governo brasileiro devolveu ao Paraguai troféus da guerra.
O Paraguai após a guerra sofreu uma violenta redução de sua população. Cerca de 20% da população
paraguaia morreu na guerra. Em 1870, havia um homem para cada 28 mulheres. As perdas humanas sofri-
das pelo Paraguai são calculadas em 300 mil pessoas, entre civis e militares, mortos em decorrência dos
combates, das epidemias que se alastraram durante a guerra, somando-se à fome. A derrota do Paraguai
marcou uma reviravolta decisiva na história do país, ocasionando graves problemas econômicos, sociais até
hoje. A indústria paraguaia foi destruída e a economia ficou totalmente comprometida. As aldeias destruídas
pela guerra foram abandonadas e os camponeses sobreviventes migraram para os arredores de Assunção,
dedicando-se à agricultura de subsistência. As terras das outras regiões foram vendidas a estrangeiros, princi-
palmente argentinos, e transformadas em latifúndios. A indústria entrou em decadência. Com o término da
guerra o mercado paraguaio abriu-se para os produtos ingleses e o país viu-se forçado a contrair seu primeiro
empréstimo no exterior: um milhão de libras, da Inglaterra.
A Argentina foi a principal beneficiada com a guerra. Anexou parte do território paraguaio. Durante todo
o tempo da campanha, as províncias de Entre Rios e Corrientes abasteceram as tropas brasileiras com gado,
gêneros alimentícios e outros produtos.
O Brasil financiou a guerra pelo Banco de Londres e pelas casas Baring Brothers e Rothschild. Durante
os cinco anos de lutas, as despesas do Segundo Império chegaram ao dobro de sua receita, provocando uma
crise financeira. O custo financeiro para o Brasil foi extremamente elevado e abalou a economia brasileira.
Por outro lado, o Exército brasileiro passou a ser uma nova e expressiva força dentro da vida nacional. Trans-
formou em uma instituição forte que, com a guerra, ganhou tradições e coesão interna e estava destinado a
representar um papel fundamental no desenvolvimento posterior da história do País.
O Brasil, a Argentina e o Uruguai, aliados, derrotaram o Paraguai após vários anos de lutas, durante os
quais o Brasil enviou 180 mil homens em guerra. Destes, mais de 30 mil não voltaram.
A Inglaterra, que apoiou a Tríplice Aliança, aumentou sua influência na América do Sul, estabelecendo
integralmente a sua dominação.
Uberaba mantinha um comércio com o Mato Grosso, através de Goiás, até a eclosão da Guerra do
Paraguai. Com a guerra, a Província de Mato Grosso perdeu a rota rio Paraguai-Coxim. Diante disso, Uberaba
canalizou todo esse comércio, incrementando a estrada Vila Boa - Cuiabá, que foi revitalizada, transforman-
do-se em uma via fundamental de ligação entre a Corte e as províncias centrais, fazendo de Uberaba um
centro importante para as operações militares e comerciais para abastecer a província de Mato Grosso.
A Guerra do Paraguai intensificou o movimento urbano-comercial em Uberaba, conforme relata vis-
conde de Taunay:
[...] a Guerra do Paraguai (1865-1870) que foi a grande responsável pela recuperação e
intensificação do movimento urbano-comercial que já se iniciara na década de 1850.
Uberaba transformou-se em ponto de passagem das tropas, rumo a Mato Grosso
chegando a aquartelar no ano de 1865, por 47 dias, o Corpo Expedicionário – Expedição
de Laguna - que se destinava a invadir o Paraguai chegando pelo norte.
TAUNAY, Cartas de Campanha de Mato Grosso, p.78
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