Page 697 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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UBERABA NA REVOLUÇÃO DE 1930 E NA
CONSTITUCIONALISTA DE 1932
Paulo Fernando Silveira
Você sabia que, em 1930, a cidade de Uberaba quase se transformou na capital de Minas Gerais, sepa-
rando-se do resto do Estado? Não? Acredite! É verdade! Pois é justamente esse episódio que, resumidamen-
te, vou lhe contar. Mas, primeiro, para melhor compreensão do assunto, precisamos recapitular alguns fatos
históricos.
Enquanto colônia de Portugal, toda a região que hoje constitui o Estado de Minas Gerais pertencia à
Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. A região mineradora, com capital em Vila Rica (atual Ouro Preto) se
separou da capitania paulista em 1720, após a rebelião liderada por Felipe dos Santos. Já a região do atual Tri-
ângulo Mineiro continuou a pertencer a São Paulo até o ano de 1748, quando foi criada a Capitania de Goiás,
à qual se incorporou. Somente em 1816, após o incidente do estupro da jovem Dona Beja, pelo ouvidor-mor
do imperador, Joaquim Inácio Silveira da Mota, é que, a pedido do povo de Araxá, houve o desmembramento
dos Julgados de Araxá e do Desemboque, que saíram da Capitania de Goiás e se incorporaram à de Minas
Gerais.
Relativamente ao Brasil, o golpe militar de 15.11.1889, liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca,
instituiu a República e pôs fim à Monarquia, que vinha desde 1808, com a chegada de D. João VI, passando
pelos imperadores D. Pedro I e Dom Pedro II.
Portanto, a conclusão irrefutável, que se extrai, é que, até então, por quase 400 anos, o povo – exceto
as famílias que compunham a elite (latifundiários, banqueiros e grandes comerciantes) – não teve participa-
ção alguma na elaboração de políticas públicas, ou sequer foi ouvido ou consultado. As leis vinham de cima
para baixo, visando, sobretudo, preservar e ampliar os privilégios dessa minoria oligárquica.
Depois da Proclamação da República, nada mudou quanto ao modo de governança do País. A elite
financeira e econômica continuou a deter o poder político, que sempre foi usado na maximização de seus
interesses particulares. Durante as eleições que se seguiram, o povo apenas confirmava nas urnas os nomes
previamente escolhidos pelos detentores do poder, notadamente para os governos estaduais e a Presidência
da República.
Assim, depois dos presidentes militares, Deodoro da Fonseca (1889/1891) e Floriano Peixoto (1891/1894),
os paulistas comandaram a nação, sucessivamente, por Prudente de Morais (1894/1898), Campos Sales
(1898/1902) e Rodrigues Alves (1902/1906). A partir desse ano, os mineiros começaram a participar do gover-
no, com a eleição de Afonso Pena (1906/1909), instituindo-se a política do ‘Café com Leite’ (alusão ao café de
São Paulo e ao leite de Minas), pela qual a Presidência da República seria ocupada em rodízio, alternada e su-
cessivamente, por um mineiro, seguido de um paulista, e assim indeterminadamente. O nome do escolhido
dependia de apadrinhamentos e conchavos políticos e, sobretudo, precisava ser sancionado pelo presidente
da República.
Esse sistema rotativo do exercício da presidência do País prevaleceu até 1929, quando houve o brusco
rompimento dessa decantada política, convencionada em nível de cúpula.
A REVOLUÇÃO DE 1930
No início do ano de 1929, o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva,
começou suas articulações para ser indicado como o próximo presidente da República, tendo como vice
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