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A BATALHA DE DELTA

                     O major Salvador Moya havia chegado a Igarapava-SP no dia 08.10.1930, à noite daquela sexta-feira.
               Comandava, com o auxílio de três capitães e dois tenentes, um contingente de 500 soldados oriundos dos
               4º e 7º batalhões da Força Pública de São Paulo. De imediato, encarregou o capitão Firmino de conquistar
               a Ponte de Jaguara, em Rifaina; e o capitão Pinto, de proteger o Porto Cemitério, em Barretos. Ele, pessoal-
               mente, com a ajuda do capitão Ferreira e dos tenentes Naul e Mariano, se incumbiriam de invadir o território
               mineiro atacando a estação ferroviária de Delta. À sua disposição, para esse fim, tinha apenas 130 soldados.
               Pelas suas contas, como ficou sabendo, do lado de lá da Ponte de Delta, sobre o Rio Grande, cuja largura
               era de 330 metros, havia apenas 62 soldados, dois oficiais e 20 civis do Batalhão Patriótico, totalizando 84
               defensores, comandados pelo capitão Agenor, que o major Afonso Elias Praes, comandante do 4º Batalhão
               da Policia Militar de Minas Gerais, com sede em Uberaba-MG, havia designado, previamente, para proteger
               aquela localidade.

                     No dia 11, à noite, o major Moya, liderando cem homens, atravessou o rio num lugar chamado Poçao-
               zinho, que ficava acima da cidade de Igarapava e a doze quilômetros da Ponte de Delta. Usou uma canoa,
               que comportava apenas oito homens. Perdeu um soldado nessa travessia. Deixou na boca da ponte, um con-
               tingente de trinta soldados sob o comando do tenente Naul, com ordens expressas de não atravessá-la. Não
               obstante, ao ver a tropa invasora retida e encantoada sob forte fogo inimigo, Naul determinou a seus homens
               que cruzassem a ponte – feita de vigas de ferro, formando vãos em forma de arcos –, para socorrer o major
               Moya. No embate, fizeram quinze prisioneiros, sendo que alguns estavam feridos. Oficialmente, os mineiros
               reconheceram a morte de três combatentes (um soldado e dois civis) e o ferimento de cinco militares. O
               capitão Firmino também logrou êxito na tomada da ponte e na ocupação da Estação Jaguara, em Rifaina. Lá,
               um soldado paulista foi ferido e um mineiro aprisionado. O Porto Cemitério também foi capturado, com o
               desalojamento das tropas rebeldes, que se refugiaram na outra margem do Rio Grande.

                     Apesar de ter sido pego de surpresa, já que o inimigo surgiu, de manhã, por terra, a um quilômetro da
               ponte, o capitão Agenor defendeu bravamente o local, dispondo de uma única metralhadora, colocada na
               boca da ponte, para segurar os invasores de ambos os lados. Depois, foi obrigado a fazer uma retirada estra-
               tégica para a Estação Calafate, que ficava a oito quilômetros, em direção ao interior, para a banda de Uberaba.
               Os paulistas tomaram a Estação Delta e as casas ao seu derredor, em torno de vinte habitações, inclusive uma
               venda de secos e molhados.

                     Assustados com a repentina e inesperada derrota, vários efetivos se reuniram em Uberaba, visando o
               contra-ataque, além das tropas do próprio 4º BI: uma seção de metralhadoras, composta de 50 homens,
               comandada pelo major Elpídio, vinda da capital (esse contingente tinha participado da tomada do 12º RI em
               Belo Horizonte), e dois pelotões de legionários de Ituiutaba, sendo um deles com 47 soldados, e um pelotão
               de 70 legionários de Tupaciguara.

                     Foi criado, improvisadamente, na oficina de Alessandro Bóscolo, por orientação de Angelo Zapelli, um
               carro blindado, mediante a adaptação de um caminhão Ford. Zapelli dizia ter participado, em 1919, das forças
               italianas que invadiram o Porto de Fiume, na Dalmácia, sob o comando de Gabriele D’Annunzio. Esse líder,
               com suas ideias, serviu de inspiração para que Benito Mussolini (o Duce) implantasse o fascismo na Itália.

                     Sob o comando do major Elpídio – que dividiu suas tropas em três colunas (as quais, por sua vez, foram
               redivididas, cada uma formando três seções), sendo lideradas, à frente, pelo carro blindado, comandado pelo
               capitão Zapelli –, houve a retomada da Ponte de Delta, com a expulsão dos paulistas para o outro lado do
               rio. Nessa ação, um soldado paulista foi morto e dez ficaram feridos. Coincidentemente, o major Moya se
               encontrava em Ribeirão Preto. Por telegrama, informou aos seus superiores que os mineiros haviam perdido,
               entre mortos e feridos, cerca de cem homens.

                     Depois da retomada da estação ferroviária e da ponte de Delta, os mineiros realizaram três tentativas
               de invadir o território paulista por meio de embarcações, acima e abaixo da referida ligação, já que ela estava
               bem protegida pelo inimigo. Fracassaram em todas elas, pois, dentro do rio, ficaram à mercê do fogo contrá-


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