Page 698 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Getúlio Vargas, governador do Rio Grande do Sul, dentro da política do ‘Café com Leite’, já que o então pre-
sidente era Washington Luiz Pereira (1926/1930), um paulista, que tinha como seu vice o ex-governador de
Minas Gerais, Fernando de Melo Viana.
Depois de uma passeata em Belo Horizonte, a favor do caudilho das alterosas, e de um encontro de
cúpula na cidade do Rio de Janeiro (então a capital do País), Antônio Carlos ficou sabendo que seu nome não
obteria a chancela presidencial. Assim, endereçou carta a Washington Luiz recomendando Getúlio Vargas
como seu sucessor. No entanto, em virtude da crise dos cafeicultores em decorrência da quebra (crash) da
bolsa de Nova York, em 1929, Washington Luiz preferiu indicar (equivalia a uma nomeação) para concorrer ao
cargo máximo seu amigo e então governador de São Paulo, Júlio Prestes de Albuquerque, que havia herdado
esse cargo estadual de seu pai, que renunciou a ele, para favorecer o filho. Na capital paulista também houve
passeatas e comícios a favor de Júlio Prestes. Dentro da encenação, Washington Luiz mandou telegramas
para dezoito governadores, consultando-os sobre sua escolha, tendo recebido a oposição de apenas um
deles: o da Paraíba. Getúlio, em carta endereçada ao presidente, do qual havia sido ministro da Fazenda,
concordou oficialmente com a escolha, ressalvando, porém, que o assunto deveria ser resolvido antes com
o governador de Minas Gerais.
Getúlio, porém, decidiu concorrer ao pleito presidencial, formando chapa da oposição, denominada
‘Aliança Liberal’, tendo como seu vice o governador da Paraíba, João Pessoa. Contudo, como era esperado,
Júlio Prestes saiu vencedor nas eleições realizadas em 1º.03.1930. No mês de julho daquele ano, João Pes-
soa foi assassinado por motivos particulares. O trágico evento foi utilizado politicamente para a conspiração
tramada previamente entre Antônio Carlos e Getúlio Vargas. Caso este perdesse nas urnas, o que já era pre-
visível, eles tomariam o poder pela força (Minas Gerais organizaria o plano de ação e o Rio Grande do Sul o
executaria pelas armas). Em 03 de outubro de 1930, Getúlio, com o apoio de Oswaldo Aranha, conclamou os
gaúchos a marchar até o Rio de Janeiro, contando, logo depois, com a adesão dos estados de Santa Catarina
e Paraná. No Nordeste, eclodiram rebeliões em Pernambuco e João Pessoa.
Em represália, na eleição para o governo de Minas Gerais, o nome de Melo Viana foi vetado por Andrada.
Então foi eleito o senador Olegário Maciel, já velho, com 74 anos de idade. No mesmo dia em que assumiu o
governo, isso em 07 de setembro de 1930, antes de findar o mandato de Antônio Carlos, o governador eleito,
dando início efetivo à revolução, mandou que a Polícia Militar mineira tomasse de assalto as dependências
do 12º Regimento de Infantaria do Exército, localizadas na capital mineira, o que, de fato, ocorreu, depois de
sangrenta batalha e inúmeras mortes do lado dos resistentes.
No lapso temporal de 21 dias, que durou a Revolução, isto é, de 03.10.1930 a 24.10.1930, tropas da mi-
lícia paulista, chamadas de ‘legalistas’ se postaram às margens do Rio Grande, na fronteira com Minas Gerais,
com o objetivo de tomar de assalto três importantes pontos estratégicos: as pontes e as estações ferroviárias
de Delta e Jaguara (Rifaina); o Porto do Cemitério (Barretos); e invadir o Estado de Minas Gerais para trans-
formar a cidade de Uberaba na sua capital. Esse último objetivo era fundamental para a campanha bélica por
duas razões elementares: a) – retiraria de Minas Gerais sua parte mais rica e produtiva, a fim de enfraquecer
a resistência dos rebeldes lá nas alterosas; b) - o Triângulo, delineado pelo Rio Grande, ao Sul, e pelo Parana-
íba, ao Norte, separava São Paulo de Goiás e do Mato Grosso. Naquela época, o Estado de Goiás sediava o
6º Batalhão de Infantaria do Exército, com mais de 600 homens. Em virtude disso, secundariamente, havia
necessidade de os paulistas se apossarem das pontes sobre o Rio Paranaíba, localizadas em Araguari (Enge-
nheiro Bethout) e Itumbiara (Afonso Pena).
Não esperando pela reação dos revolucionários, os paulistas atacaram primeiro em Delta, embora os
estrategistas mineiros previssem, equivocadamente, o início do engajamento em Juiz de Fora (Zona da Mata)
ou no sul de Minas (Pouso Alegre e Itajubá). Por isso, deram pouca atenção ao Triângulo Mineiro. Na região
da ponte de Delta ocorreram cinco batalhas, em doze dias de luta efetiva e ferrenha, resultando em várias
mortes e a tomada de prisioneiros.
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