Page 700 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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rio. Não obstante, vinte e cinco soldados paulistas foram feridos nesses engajamentos. Na Estação Jaguara, o
            capitão Firmino rechaçou o avanço das tropas mineiras, que tinham vindo da cidade de Sacramento.
                  O major Moya, tendo obtido reforços, resolveu tomar a iniciativa de novo ataque ao solo mineiro. Fê-lo,
            primeiro, através de um trem blindado, aproveitando os trilhos que corriam sobre a ponte de Delta. Copiou-se
            a ‘Locomotiva Zezé Leone’, usada na revolução paulista de 1924. Uma metralhadora foi instalada na torre da
            máquina e os vagões foram blindados nas laterais. A investida não deu certo porque os mineiros metralharam
            o trem pela parte de cima, que estava descoberta. Resultado: do lado dos paulistas, três oficiais e dez solda-
            dos feridos e um anspeçada morto. A segunda tentativa se deu através desse mesmo trem, batizado agora
            de ‘Locomotiva Maluca’. O trem iria sem soldados ou blindagem. Porém, estaria recheado de explosivos, que
            seriam acionados pelo impacto da máquina contra as barreiras existentes na outra boca da ponte, colocadas
            preventivamente pelos mineiros sobre os trilhos. Não foi preciso. Dessa vez, não houve resistência por parte
            dos mineiros: haviam recuado para a Estação Calafate, deixando livre para os paulistas toda a região de Delta.
            Da ponte, que estava minada, foram retirados os fios elétricos e os explosivos, já que os mineiros não tiveram
            tempo de explodi-la antes de sua retomada pelo inimigo. Agora, com mais de 400 soldados, o major Moya
            se assenhorou dessa parte do território mineiro, mantendo a ponte e a estação ferroviária inteiramente sob
            controle de suas tropas.
                  Do lado dos mineiros, com a chegada, da capital, do Batalhão Juvenal Pequeno, com 163 praças e
            vários oficiais, metralhadoras e farta munição, os rebeldes passaram a contar com cerca de 450 homens.
            Contudo, chegou-se à conclusão de que o inimigo havia recebido novos e numerosos reforços, não sendo
            aconselhável, no momento, qualquer tipo de engajamento sério, a não ser eventuais escaramuças, pequenas
            e tópicas. De modo que essa força adicional mineira ficou estacionada na Estação Calafate, enquanto os
            paulistas permaneciam tranquilamente em Delta.
                   O major Moya, no entanto, pensava em conquistar a cidade de Uberaba, para transformá-la na capital
            provisória de Minas Gerais, conforme telegrama enviado pelo deputado Francisco Junqueira ao presidente
            da República, salientando a “conveniência de tomar Uberaba, fazendo-a Capital provisória de Minas, nome-
            ação interventor, estabelecendo governo legal facilitando organização batalhões território Triângulo Mineiro,
            levando desânimo população, dificultando arrecadação deles, reduzindo Minas rebeldes parte improdutiva
            Estado”. Além disso, facilitaria a movimentação de tropas leais vindas de Goiás e Mato Grosso. Para vencer a
            resistência do inimigo, esse oficial pretendia bombardear a cidade de Uberaba com um avião que, a seu pedi-
            do, já estava vindo da capital paulista. Visando esse fim, rasgou-se improvisadamente na terra nua um estreito
            e tosco campo de aviação na cidade de Ituverava.

                  No entanto, no dia 25 de outubro, o presidente Washington Luiz foi deposto no Rio de Janeiro e a
            Revolução se tornou vitoriosa. Moya recebeu ordens de retirar e dispersar suas tropas, que totalizavam 1.336
            combatentes, conduzindo-as para Ribeirão Preto, Campinas e Bauru.



            A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA - 09 DE JULHO DE 1932

                  Ao assumir o governo, Getúlio Vargas nomeou interventores para todos os Estados da Federação, com
            exceção de Minas Gerais, que continuou sendo governada por Olegário Maciel. O Estado de São Paulo se
            sentia humilhado e vitimado. Dois anos depois da Revolução de 1930, a insatisfação com a demora da elabo-
            ração de uma Constituição Federal e o fato de o interventor nomeado não ser paulista, irritou os poderosos
            cafeicultores, que buscavam recuperar o poder e a influência perdidos após a derrota do antigo governo fe-
            deral. Na realidade, procuravam restaurar o velho sistema político de predomínio das oligarquias. Além disso,
            São Paulo se sentia prejudicado, eis que Minas Gerais e o Rio Grande do Sul eram beneficiados, privilegiada-
            mente, com as verbas federais. Na capital paulista, em maio de 1932, houve uma gigantesca manifestação
            pública contra o governo federal em que quatro estudantes foram mortos. Usando-se, como símbolo da
            rebelião, as iniciais desses estudantes (MMDC), o povo foi convocado à luta armada. Lideravam o movimento,
            reunido em 09 de julho, entre outros, os generais Euclydes de Oliveira Figueiredo (pai do futuro presidente



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