Page 115 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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No Cerrado são conhecidas mais de 1.500 espécies de animais — esse número é um dos maiores em
               termos da diversidade do planeta. São mamíferos, aves, anfíbios, répteis, borboletas e abelhas, entre inúmeros
               outros insetos. Muitos desses animais correm sério risco de extinção. Estima-se que: “Se mantido o padrão
               de destruição do Cerrado observado entre 2003 e 2013, até 2050 serão extintas 480 espécies de plantas e
               mais de 31 a 34% do Cerrado poderá ser perdido” (GREENPEACE, 2017). Depois da Mata Atlântica, o Cerrado
               é considerado o bioma brasileiro que mais sofreu alterações. O desmatamento, a exploração do carvão, o
               fogo, o uso de agrotóxicos são práticas extremamente predatórias que permanecem. Áreas remanescentes
               que ainda apresentam vegetação nativa são ameaçadas constantemente pela demanda crescente por novas
               áreas de lavoura e pastagens. Boa parte da vegetação original foi substituída por pastagens de braquiária e ou-
               tras gramíneas, por lavouras de cana-de-açúcar e de grãos, comprometendo o frágil equilíbrio do que restou.
                     A concentração urbana foi um fato muito significativo no processo de ocupação do Cerrado. O incre-
               mento na produção de carne e de grãos para exportação exigiu uma estrutura urbana considerável, princi-
               palmente devido ao processo de exportação e industrialização da produção. Isso fez com que diminuísse a
               separação entre cidade e campo (OLIVEIRA, 2001). Como o uso do solo passou a seguir determinações vin-
               das de fora, o suporte às empresas, aos setores de vendas, de conserto de máquinas, de extensão rural etc., a
               presença da mão de obra que se deslocou das áreas periféricas ocasionou o crescimento das cidades. Tudo
               isso representou maior pressão sobre os recursos naturais, trazendo também consequências em termos da
               escassez de água e impactos negativos na estrutura urbana, que não comportava a rápida transformação dos
               últimos anos. No meio urbano, também se constata a ausência de arborização, de parques e de áreas verdes
               em geral.

                     Para preservar a fauna e garantir o abastecimento de água para o futuro, é preciso preservar o Cerrado,
               reduzir o desmatamento, conservar o que ficou da vegetação nativa e estimular maneiras sustentáveis de
               produzir, sem degradação socioambiental.

                     Para os próximos anos, será preciso debater e propor, com compromisso de todos os envolvidos, po-
               líticas públicas voltadas para democratização dos espaços urbanos, arborização e políticas de saneamento.
               Igualmente, não será possível pensar a realidade local e o futuro sem um profundo questionamento do des-
               tino que terá o próprio setor agropecuário. Pensar de forma integrada a cidade e o campo é imprescindível,
               assim como cuidar da qualidade socioambiental para proporcionar melhores condições de vida à população.

                     Um mero observador talvez considere lindo o pôr do sol do Cerrado, mas, para entender as belezas,
               tanto quanto as ameaças que pairam sobre o território e seus habitantes, é preciso ir além dos olhares encan-
               tados que se lançam sobre os horizontes infinitos, é preciso (re)conhecer uma história de mais de 200 anos
               e suas articulações entre o passado e o presente, o local e o global, entre o todo e as partes, entre o antigo e
               o novo. O futuro depende desses múltiplos olhares.

                       O autor agradece a leitura crítica realizada gentilmente pelos geógrafos Mara Maciel, Amanda Gonçal-
               ves e Mirlei Pereira, pela geóloga Ana Maciel de Carvalho e pelo editor Hugo Maciel de Carvalho, sem olvidar
               que as falhas são de exclusiva responsabilidade do autor.
























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