Page 91 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
P. 91
A PRÉ-HISTÓRIA EM UBERABA - UMA
VIAGEM À TERRA DE GIGANTES
Luiz Carlos Borges Ribeiro (texto)
Rodolfo Nogueira (paleoartista)
Se pudéssemos viajar numa máquina do tempo e retornar à região onde hoje situa-se o município de
Uberaba entre 240 e 65 milhões de anos, iríamos nos deparar com um cenário fantástico, inacreditável, com
eventos colossais e paisagens nada parecidas com as atuais. Sim, geólogos e paleontólogos têm esta habili-
dade ou mesmo capacidade de perscrutar o tempo geológico profundo, a partir da análise das rochas e
fósseis que, como páginas de um grande livro, revelam com relativa exatidão a pré-história dessa porção do
Triângulo Mineiro. Em uma analogia simples entre o planeta e uma bola de futebol formada de pequenos
“gomos” que se articulam, os quais denominam-se placas tectônicas, assim era o comportamento da super-
fície de nosso planeta que de tempo em tempo ia se transformando, gerando distintas fisionomias sobre a
superfície terrestre. Por volta de 240 milhões de anos atrás, início da Era Mesozoica, todos os continentes que
hoje conhecemos se encontravam unidos formando uma só massa terrestre: o supercontinente Pangeia
(toda a Terra). Com um movimento lento e gradual dessas placas tectônicas ao longo de milhões e milhões
de anos, numa dança capaz de arrastar os continentes e oceanos, a então Pangeia fragmentou-se para dar
origem a dois novos megacontinentes: Gonduana, ao sul; e Laurásia, ao norte. A região de Uberaba ficava
encravada aproximadamente na porção central do Gonduana, que há 180 milhões de anos reunia as atuais
América do Sul, África, Austrália, Índia, Madagascar e Antártica. A partir desse momento, cada qual iniciou um
movimento de separação, para, aos poucos, ir tomando seus destinos até suas atuais posições geográficas.
Reconstrução do mega continente Pangeia há 240 milhões de anos e sua fragmentação até o final do período Cretáceo há 65 milhões de
anos, quando em Uberaba reinavam os gigantes e poderosos dinossauros
Por volta de 145 milhões de anos atrás, Uberaba foi tomada por uma condição climática de calor e se-
cura extremos, vindo compor parte de um deserto de proporções gigantescas, quase igual ao Saara, denomi-
nado deserto Botucatu. Dunas gigantes se estendiam por áreas imensas, onde atualmente se encontram boa
parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasil, alcançando ainda os países vizinhos Paraguai, Uruguai
e Argentina. Esse momento ficou perpetuado por meio de rochas, na maioria arenosas, de cores avermelha-
das a arroxeadas, formando espessas camadas, cientificamente nominadas Formação Botucatu, por ter sido
originalmente descrita na cidade homônima no Estado de São Paulo. A gruta dos Palhares, em Sacramento,
é um registro inequívoco de uma enorme duna petrificada. Entre os grãos dessas rochas, a exemplo de uma
espuma repleta de pequenas cavidades (poros) interconectados encontra-se alojada a fonte da vida: água
cristalina, doce e potável, compondo um dos maiores reservatórios de água subterrânea do planeta: o Aquí-
fero Guarani (formações Botucatu + Piramboia). As diversas formas de vida que povoaram esse deserto, das
quais dinossauros e até escorpiões deixaram seus vestígios através de pegadas, trilhas, e até mesmo “xixi” de
89