Page 92 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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dinossauro (urólito), revelados em abundância em pedreiras dos municípios paulistas, notadamente Araraqua-
            ra e Rifaina, essa próxima a Uberaba. Há cerca de 130 milhões de anos a América do Sul e África já haviam
            iniciado a sua longa jornada de separação e por conseguinte, o Oceano Atlântico já existia como um mar
            embrionário, confinado e estreito, preenchido por águas tépidas, rasas e bastante ricas em sais. Aos poucos
            esse estreito oceano foi se alargando, impulsionado por forças colossais, resultantes dos fluxos de lavas que
            brotavam do interior do planeta a dezenas de quilômetros de profundidade. Essas rochas fundentes, tal como
            numa esteira gigante, “empurraram” a África para leste e a América do Sul para oeste, centímetro a centímetro
            em um movimento contínuo e lento rumo aos cerca de 6000 quilômetros que atualmente as separam. Essas
            mesmas gigantescas forças geológicas, responsáveis por deslocar os continentes, abrindo-se, assim, o imen-
            so Atlântico, acabaram por criar fendas profundas nos interiores do Brasil e da África, por onde ascenderam à
            superfície milhares de quilômetros cúbicos de lavas com temperatura superior a 1000°C, tal como um azeite
            fluido que se espraiasse recobrindo cerca de 1,6 milhão de quilômetros quadrados só na América do Sul. Esse
            foi um dos maiores eventos vulcânicos que já ocorreu no interior dos continentes, sem precedentes na his-
            tória geológica do planeta. O seu resfriamento deu origem a rochas, na sua maioria negras, constituindo o
            que os geológos denominam basaltos. As famosas Cataratas do Rio Iguaçu são formados pors derrames de                                    Imagem de Uberabatitan ribeiroi, o maior dinossauro do Brasil, entre as coníferas
            basaltos, tendo lentes de arenitos da Formação Botucatu intercalados. Aos poucos, as dunas do deserto Bo-
            tucatu, sucumbiram sepultadas por centenas de metros de espessura de rochas vulcânicas. Isso não ocorreu
            de uma única vez, ou seja, há evidências de mais de uma dezena de derrames, em especial no sul do Brasil,
            na região chamada Serra Geral, entre os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, localidade tipo onde
            se originou o nome dessa camada de rochas. Em Uberaba observa-se fato semelhante, com a presença de
            mais de 3 derrames de basalto pertencentes à Formação Serra Geral, entre os quais se inserem lentes de
            arenito do deserto Botucatu, contabilizando uma espessura total que atingiria mais de 400 metros. Essas in-
            formações são atribuídas a três poços tubulares profundos, perfurados dentro da cidade de Uberaba. Passa-
            dos 50 milhões de anos, ou seja, há cerca de 80 milhões de anos da atualidade, parte dessa enorme região
            afetada pelo vulcanismo começou a se afundar para criar uma grande depressão bordejada por montanhas,
            conhecida como Bacia Bauru, que lentamente foi preenchida de sedimentos provenientes de sua borda.
            Nesse contexto se inseriram os ambientes geológicos que propiciaram a fossilização das diversas formas de
            vida que a partir de 1945 começaram a vir à luz do conhecimento, numa explosão de achados paleontológi-
            cos no município.

                  Ao se abrir esta janela do tempo
            entre 80 e 65 milhões de anos atrás
            e olhar para Uberaba, veríamos que o
            relevo, o clima, a vegetação, o padrão
            dos rios e, em especial, os seres que
            aqui viviam, muito pouco se pareciam
            aos atuais. Com temperaturas escal-
            dantes que poderiam beirar aos 60° C,
            e uma aridez climática similar à caatin-
            ga nordestina, não era empecilho para
            o desenvolvimento de um complexo
            ecossistema que nos deixou um lega-
            do fantástico, tal como a descoberta,
            no ano 2000, do crocodilomorfo Ube-
                                                       Uberabasuchus terrificus - Reconstrução ambiental da região de Peirópolis há 70
            rabasuchus terrificus, o mais completo      milhões de anos, onde em primeiro plano está o terrível crocodilo de Uberaba
            fóssil encontrado no município.

                  Entretanto deveria haver abundante vegetação arbustiva, para suprir de folhas as manadas de grandes
            dinossauros herbívoros, posicionada mais próxima aos corpos d’água, compondo nichos ecológicos onde
            floresciam uma pluralidade de formas de vida aquáticas e terrestres, variando de organismos microscópicos
            a dinossauros que poderiam atingir mais de 26 metros de comprimento.


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