Page 86 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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UBERABA DA MINHA INFÂNCIA
Zilda Novaes
Poetisa e autora de livros infantis
Uberaba querida... meus tempos de criança...
Dos primeiros folguedos... os primeiros sonhos...
Primeiros devaneios ... anseios... esperanças...
Uberaba ruas curvas... lama... poeira...
Sobrados... casas longas cheias de janelas,
Marcante estilo de cidade mineira.
Uberaba querida da minha infância...
Ouço ainda ao alvorecer as carrocinhas...
O sininho a tinir, os passos no jardim...
O toque na janela, e a meia voz: “Padeiro...”
O leiteiro batendo os brilhantes latões!...
__Eia o tomate... o alface... óia o verdureiro...
O velho carro-de-boi chiando lá na esquina, à
frente, ferrão nas mãos cantando vinha o candieiro:
__ Eia... vamo Maiado... caminha Melão...
E sobre metros de lenha seca, as frutas,
rapadura batida, branquinha... frangos...
doce de leite na palha... o queijinho fresco,
o moreno e gostosíssimo requeijão...
Os córregos desnudos cortando as ruas;
em seus barrancos, vicejava a bananeira...
Aqueles bambus longos que se debruçavam
nas velhas pontes de tosca madeira,
e no solo vermelho nódoas deixavam
que os gentis cavalheiros e gentis pedestres
e os poéticos carros de praça marcavam...
O sol fremindo sobre os telhados escuros...
no silêncio da noite a lua passeando,
deixando sombras densas nos beirais das casas,
as ruas simples, semi-securas, prateando...
E as festas religiosas... Oh!... quanto esplendor...
A do Sagrado Coração, a do Rosário...
Centenas de meninas com lindos vestidos
brancos, trazendo nas cinturas, nos cabelos
os graciosos e belos laços de fita,
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