Page 103 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Sendo considerados como locais de oficinas de produção lítica, muitos desses sítios arqueológicos
também foram constituídos e utilizados por populações ceramistas para produção de ferramentas com fun-
ções e formas diversificadas, e que eram utilizadas nas atividades cotidianas, tais como raspadores, facas, fu-
radores e pontas de flecha. Muitas vezes objetos brutos, isto é, recolhidos diretamente de suas fontes, tam-
bém eram utilizados para atividades que não exigissem transformação da matéria-prima, como, por exemplo,
bater e esmagar. Nestes sítios, também podem ser encontrados objetos apresentando gumes e pontas cor-
tantes, bem como artefatos abandonados pelo excessivo desgaste causado pelo uso. Além dos artefatos líti-
cos, também podem ser identificados outras evidências materiais, como estruturas de fogueiras utilizadas
para funções diversas, tais como: aquecimento; cocção de alimentos e preparo de matéria-prima para a fa-
bricação de artefatos.
Artefatos plano-convexos líticos da Tradição Itaparica
Fonte: MC CONSULTORIA. Resgate arqueológico da área diretamente afetada pela implantação da PCH Piedade em Monte
Alegre de Minas (MG). Relatório final. Belo Horizonte. Ano 2005
UMA BREVE CONCLUSÃO
Atualmente uma mudança de enfoque está em curso nas pesquisas arqueológicas, principalmente
quanto à interpretação dos sítios arqueológicos com presença de elementos materiais da cultura enquadra-
dos em duas ou mais tradições diferentes, como vimos anteriormente. Sendo definidos como sítios multi-
componenciais ou mesmo multiculturais, podem nos levar a entender muitos aspectos das interações cultu-
rais, presentes entre as populações indígenas em tempos históricos diversos, mas, principalmente, no período
pré-colonial.
Para o território definido pelo município de Uberaba e região ao levarmos em consideração o contínuo
geográfico que liga os campos e savanas do Brasil Central com os cerrados do Triângulo Mineiro, as florestas
tropicais mais ao Sul e o Planalto Ocidental Paulista, é fácil propor essa área como uma rota de ocupação e
perambulação de grupos étnicos falantes das línguas Jê e Tupi.
Associando-se a informações oriundas de outros campos de estudo como a linguística, já foi proposto
que os povos definidos como Jê Meridionais teriam se deslocado para estes territórios vindos do norte, numa
separação que ocorreu há, aproximadamente, 3.000 anos (URBAN, 1992), chegando a ocupar a região até o
período colonial.
As evidências materiais atualmente identificadas e pesquisadas pela Arqueologia permitem chegar a
essa conclusão, pois nessas fontes de dados a presença de povos Jê e Tupi é uma constante. O que se quer
afirmar é que pelas condições ambientais e fatores sociais, Uberaba e região comportam características que
satisfazem à elaboração do complexo sociocultural Jê-Tupi. Nesse ambiente regional, não só se encontram
as condições para o desenvolvimento de um processo de ocupação de populações Jê, como também para
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