Page 101 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Do ponto de vista das ocupações humanas pretéritas no atual território conhecido como Triângulo
Mineiro, mais especificamente as terras do município de Uberaba, região com formação ambiental de cer-
rado, na bacia do rio Grande, têm-se como marco temporal os povoamentos não-indígenas no século XVIII,
e seus contatos com as populações indígenas que já ocupavam essas terras por tempos imemoriais. Porém,
observa-se uma grande dificuldade em se traçar a presença dos povos indígenas nesse território, por razões
de ordem histórica, pois os registros e documentos pouco informam a respeito dessa presença. Portanto,
essa região era considerada, principalmente nesse século de referência, um sertão desconhecido, cujos obs-
táculos foram tantas vezes mencionados por viajantes e aventureiros.
Para distinguir as diferentes situações das ocupações humanas anteriores ao século XVIII, podemos
denominar de período pré-colonial regional, e definir os diferentes sítios arqueológicos encontrados nessa
região de Minas Gerais, como referenciais para entendermos as ocupações humanas pretéritas, tendo os di-
versos artefatos presentes nesses sítios, bem como o próprio ambiente, como nossas ferramentas de leituras
arqueológicas.
Na Arqueologia brasileira, para facilitar a organização das informações oriundas de pesquisas, criou-
-se um modelo classificatório definido como Tradições Tecnológicas , também conhecidas como Tradições
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Arqueológicas. Trata-se, portanto, de um modelo de classificação que leva em consideração os diferentes
aspectos tecnológicos utilizados pelos grupos humanos pré-coloniais para confeccionar seus utensílios, bem
como o próprio resultado de sua produção, isto é, as características dos artefatos. Esses grupos humanos
também são conhecidos como povos caçadores-coletores e povos agricultores do período pré-colonial,
sendo que as principais referências materiais estão associadas à confecção de objetos líticos e cerâmicos.
Existem, portanto, as tradições tecnológicas líticas, utilizadas para classificar as diversas formas de se
produzir artefatos em rocha; as tradições tecnológicas cerâmicas, utilizadas para classificar as diversas formas
de se produzir vasilhas cerâmicas; e as tradições de pinturas rupestres, utilizadas para classificar as diversas
formas de pinturas e gravuras que se encontram no ambiente sobre uma base rochosa.
Mapa dos sítios arqueológicos pré-coloniais registrados no município de Uberaba e em seu entorno
Faremos um recorte a respeito das informações arqueológicas para entender Uberaba e sua região a
partir de sucessivos achados arqueológicos que podem contribuir para uma análise a respeito de um possível Essas populações, embora produzissem utensílios duráveis, de interesse arqueológico pela sua capaci-
continuum de ocupações humanas pré-coloniais que habitaram, principalmente, os vales da bacia do rio dade de preservação, constituídos por instrumentos de pedra: facas, raspadores, furadores, machados poli-
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Grande e seus afluentes, chegando até os primórdios da ocupação colonial regional. dos, mãos de pilão, batedores, etc., também podendo ser identificados adornos corporais: de pedra, resina,
ossos e dentes de animais; os principais artefatos diagnósticos de sua cultura material são as vasilhas de ce-
Até o presente momento o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos – (CNSA), do Sistema de Geren-
ciamento do Patrimônio Arqueológico (SGPA), coordenado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico râmica, que tinham funções de uso cotidiano: armazenamento de água, grãos, pigmentos, cozimento de
Nacional (Iphan) , identifica-se o registro de 05 (cinco) sítios arqueológicos pré-coloniais no município de alimentos, etc. Cumpriam também funções rituais quando, por exemplo, eram utilizadas em ritos funerários.
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Uberaba. Nos municípios de seu entorno, porém, a presença desses sítios é bem maior, o que denota um alto Vários são os indícios que apontam para a presença humana perpassando o período pré-colonial de
potencial para a pesquisa arqueológica no município, principalmente a partir da bacia do rio Uberaba, como uma ampla ocupação de grupos étnicos falantes de língua Tupi, sobretudo ao longo do curso do rio Grande e
pode ser observado no mapa do registro arqueológico abaixo: seus afluentes, sendo classificados como pertencen-
tes à Tradição Arqueológicas Tupi-Guarani.
De acordo com as pesquisas arqueológicas regionais, nesses ambientes são possíveis definir dois gran-
des contextos arqueológicos para populações agricultoras e produtoras de cerâmicas, sendo identificados e Algumas características presentes na cultura
definidos a partir da denominação de Tradições Arqueológicas Ceramistas e um grande contexto para popu- material desses povos Tupi, e que aparecem como
lações caçador-coletoras, sendo classificado a partir das Tradições Arqueológicas Líticas. um de seus traços diagnósticos, é a existência de
uma cerâmica tecnicamente bem confeccionada,
Os sítios arqueológicos que apresentam artefatos cerâmicos, estes estão associados às populações com a presença de uma decoração policrômica e/
agricultoras e caracterizaram-se por apresentar demografia mais densa, com assentamentos maiores e mais ou com decoração plástica, associada a rituais mor-
estáveis. tuários, com urnas funerárias denominadas igaçabas,
indicando rituais de enterramentos primários, quando
1 Conceito foi definido pelo primeiro grande projeto de pesquisa arqueológica desenvolvido no Brasil, nos anos de 1960, e conhecido como o indivíduo é inserido diretamente na urna, e secun-
Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa).
dários, quando o indivíduo primeiramente é enterra-
2 As bacias hidrográficas são importantes referenciais ambientais sendo definidas como geoindicadores para a compreensão da ocupação do diretamente no solo e, passado um período, seus Artefatos cerâmicos diversos da Tradição Tupi-Guarani
humana regional. Fonte: https://www.multarte.com.br/artes-indigenas-
ossos são recolhidos e depositados nas urnas.
3 Pesquisa realizada no banco de informações do Iphan no endereço http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1699. brasileiras-e-suas-caracteristicas
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