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Artefatos cerâmicos da Tradição Aratu-Sapucaí: urna funerária e pote duplo
Fonte: MHNJB-UFMG, http://museuufmg.blogspot.com
Outro aspecto étnico de grupos ceramistas, estes se diferindo dos grupos de língua Tupi, são as popula-
ções associadas a grupos falantes de línguas Jê, sendo classificados pela Arqueologia, como fazendo parte da
Tradição Aratu-Sapucaí. Dessa Tradição são encontrados sítios arqueológicos associados a grandes aldeias,
muitas vezes identificadas com formato circular, oval ou em ferradura, que correspondem aos agricultores
ceramistas pré-coloniais que se originaram do Brasil Central.
Nas escavações realizadas em sítios arqueológicos dessa Tradição, foram encontrados vestígios habi-
tacionais, área de sepultamento primário e secundário, restos de combustão, como fogueiras, restos alimen-
tares e muitos fragmentos de artefatos cerâmicos e líticos, bem como de artefatos confeccionados a partir
de ossos e chifres de animais. Um elemento característico dessa Tradição é a presença de um pequeno pote
geminado, também conhecido como pote duplo, que pode estar associado a atividades ritualísticas.
Um aspecto arqueológico interessante e que vem sendo identificado pelas pesquisas regionais, observa
que em alguns sítios arqueológicos em que se encontram objetos da Tradição Tupi-Guarani, como fragmen-
tos cerâmicos com decoração plástica, engobo branco e pintura sobreposta, muitas vezes é encontrado na
composição da argila para a confecção de um artefato, a presença de um tipo de antiplástico que está asso-
ciado à outra Tradição arqueológica, como por exemplo, a presença de cariapé, que é uma cinza oriunda da
queima de cascas de árvores, muito utilizada por ceramistas falantes de línguas Jê para temperar a argila e dar
maior plasticidade, além de fragmentos de machado semilunar e muita cerâmica lisa e sem decoração que
indica características que aproximam esses objetos mais de sítios arqueológicos da Tradição Aratu-Sapucaí.
Ou mesmo a presença de pinturas vermelhas na superfície das peças cerâmicas da Tradição Aratu-Sapucaí. A
partir desse cenário podemos nos perguntar: Será que as populações falantes de línguas Tupi estabeleceram
relações étnicas com populações falantes de línguas Jê? Interessante pergunta para o futuro das pesquisas
arqueológicas regionais.
E as populações mais antigas? Para responder a essa questão, o objeto lítico, enquanto documento
arqueológico assume grande importância já que raramente se encontra ausente nos contextos de pesquisa
arqueológica. Os artefatos líticos são evidenciados em diversos graus de confecção pela técnica do lasca-
mento. Na confecção dos artefatos de pedra lascada, em geral são utilizados como matéria-prima seixos
ou blocos de sílex, arenito silicificado ou, mais raramente, o quartzo; porém, podem ser identificadas outras
rochas de acordo com a disponibilidade do ambiente.
De modo geral, os sítios arqueológicos líticos na região de Uberaba são identificados a céu aberto e
caracterizados como remanescentes de antigos assentamentos dessas populações caçadoras–coletoras. Na
narrativa arqueológica, dentre um conjunto de artefatos líticos confeccionados para diferentes tarefas cotidia-
nas, um objeto se destaca como elemento diagnóstico comumente encontrado nesses sítios arqueológicos.
Trata-se de um raspador plano-convexo conhecido pela denominação de “lesma”, semelhante ao molusco
terrestre com o mesmo nome. Esses artefatos lascados caracterizam a Tradição Arqueológica Itaparica. Os
instrumentos líticos dos sítios considerados dessa Tradição, além da lesma, são raspadores circulares, semi-
circulares, laterais e na forma de leque, alguns com retoques finos realizados a partir da pressão, e furadores.
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