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A PECUÁRIA ZEBUÍNA EM UBERABA E A

                          IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO


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                     A história das raças zebuínas e sua consequente dispersão pelo mundo tropical, sem dúvida alguma
               tem preponderante papel histórico de Uberaba e da região do Triângulo Mineiro. Contudo, os primeiros regis-
               tros das entradas do gado indiano no Brasil não se deram no interior de Minas Gerais.
                     O relato mais remoto da chegada de bovinos da espécie zebu remonta o ano de 1813, quando Mi-
               guel Calmon Du Pin e Almeida (Marquês de Abrantes) cita em seu livro: O ensaio sobre o fabrico do açúcar,
               publicado em 1834, a entrada de dois animais advindos da Costa do Malabar (provavelmente das feitorias
               do Damão, Goa e Diu), deixados, sem motivos claros, no porto de Salvador, por uma embarcação inglesa.
               Segundo Abrantes, esses animais deram origem ao gado mestiço com o crioulo local, que ficou conhecido
               como Malabar.
                     Outras entradas de bovinos provenientes da Índia chegaram ao País nas décadas seguintes, mas foi
               especialmente na segunda metade do século XIX, nas terras pioneiras da expansão cafeeira do Vale Paraíba
               fluminense, que começaram a ocorrer importações intencionais de gado zebu para o Brasil, pelos abastados
               barões do café fluminenses e por outros criadores que se estabeleceram naquela região.

                     Curiosamente muitos desses animais eram adquiridos de mercadores europeus que comercializavam
               animais de grande porte, como o alemão Carl Hagenbeck, que destinava a maioria de animais exóticos de
               habitats de todos os continentes à formação de circos e zoológicos espalhados no mundo e àqueles que se
               interessassem por bovinos e equinos de raças. Algumas empresas de importação, como a Casa Arens, esta-
               belecida na capital, contribuíam para esses fins. Além das casas de importação já citadas, existiam ainda as
               casas Crashley e Hopkins, que juntas importaram cerca de 100 reprodutores de zebu para os criadores dos
               estados do Rio de Janeiro, da Bahia e do Triângulo Mineiro, durante as décadas finais do século XIX (LOPES,
               RESENDE. 2019. p. 51).

                     Por meio desses primeiros criatórios de zebu muitos animais foram distribuídos para outras regiões do
               Brasil e acabaram chegando ao Triângulo Mineiro. Destacaram-se nesse processo: Elias Antônio Moraes, o
               Barão das Duas Barras; os irmãos Conde de São Clemente e Conde de Nova Friburgo; Acácio Américo de
               Azevedo; Manoel Ubelhart Lemgruber; Antônio Lutterbach, entre outros. Os criadores fluminenses lideraram
               o movimento de importação de zebu até a década de 1890 e por muito tempo continuaram a fornecer es-
               toques zebuínos para diversas regiões do País.

                     Não é tarefa fácil descobrir a data exata da chegada do zebu em Uberaba. Os primeiros animais saíram
               da província do Rio de Janeiro, principalmente das fazendas Areias, São Clemente, Boa Sorte e Lordelo nas
               proximidades de Cantagalo; outros saíram da região de Porto Novo da Cunha, ambas no Vale do Paraíba
               fluminense.
                     Algumas versões sustentam que os primeiros zebus chegaram oficialmente ao Triângulo Mineiro nos
               anos de 1875, 1887 e 1889. Com a rápida disseminação dos produtos desses primeiros animais em Uberaba,
               a região começou a ganhar a atenção como criatório de zebu e ferrenhos opositores, como o influente e
               poderoso cafeicultor Martinho Prado Júnior, que proferia severas críticas aos uberabenses na imprensa da
               capital brasileira, no conhecido Jornal do Commercio. Martinho era defensor do aprimoramento do rebanho
               bovino nacional através da introdução de raças europeias; por isso, não poupava críticas ao gado indiano.
               Anos depois, no início do século XX, vigorou a política conhecida como Guerra ao Zebu, protagonizada,



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