Page 442 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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sobretudo, por criadores, zootecnistas e intelectuais paulistas que criticavam aberta e publicamente a intro-
dução do gado indiano no território nacional, tendo como figura central nessas críticas o renomado médico
Pereira Barreto que, costumeiramente publicava ataques contra a criação do gado indiano no Brasil, no jornal
O Estado de São Paulo.
Tais críticas motivaram uma moção de protesto assinada por 28 criadores de Uberaba, publicada no
mesmo Jornal do Commercio, em 22 de março de 1893. Em função do início dessa nova febre pelo zebu,
nesse mesmo ano saiu de Araguari, rumo à Índia, o primeiro brasileiro a importar zebuínos para o Triângulo,
sem intermediadores: Teófilo de Godoy. A partir deste feito, a hegemonia de Uberaba e região na criação e
distribuição do gado indiano se consolidaria.
Enfrentando críticas de importantes criadores brasileiros, intelectuais e zootecnistas, os rudes fazendei-
ros do Triângulo Mineiro incorreram numa desenfreada busca de zebu à Índia, como os ibéricos dos séculos
XV e XVI, quando da procura de novas rotas das especiarias. Essa possível riqueza baseava-se na experimen-
tação, numa arriscada crença de que o gado zebu poderia trazer fartos lucros.
Adaptada aos trópicos, esta espécie inaugurava uma nova fase da criação de gado em solo brasileiro,
que até o início do século XX tinha os rebanhos fundamentados no bos taurus taurus (gado taurino de origem
europeia, ramificado em diversas raças). O bos taurus indicus, encontrava, no território nacional, espaço para
expansão além de nossas fronteiras em todo o mundo tropical naquele que pode ser caracterizado como
século do zebu.
IMPORTAÇÕES DA ÍNDIA (CONSOLIDAÇÃO)
1893-1921: As importações diretas de zebu para o Brasil ocorreram em períodos, sendo a primeira eta-
pa realizada durante o final do século XIX e décadas iniciais do século XX. A partir de Teófilo de Godoy, que
esteve no país asiático em dois momentos, 1893 e 1904, procederam inúmeras expedições, em sua maioria
patrocinadas por criadores do Triângulo Mineiro. De todos os períodos neste foi o que houve o maior número
de entrada de animais. Esse ciclo se fechou com o avanço da peste bovina, cujo risco ameaçava invadir o
País. Entraram inúmeras animais, dando origem aos primeiros plantéis puros das raças indianas Kancrej, inti-
tulada no Brasil de Guzerá; e a Ongole, que por aqui ficaram conhecidas como Nelore e Gir. Também foram
importadas outras raças indianas que não vigoraram no Brasil.
1930: Uma única importação foi autorizada pelo Ministério da Agricultura para Francisco Ravísio Lemos
e Manoel de Oliveira Prata. Este último esteve na Índia também no período anterior. Essa importação contri-
buiu fortemente na consolidação da raça Nelore, trazendo também animais de outras raças, como a Sindi.
1952-1957: Os imensos esforços de Felisberto de Camargo para conseguir a autorização do Ministé-
rio da Agricultura culminaram também com a importação da raça Sindi (originária do Paquistão), vista por
Camargo como a solução para a pecuária do norte do Brasil. Em 1957, Joaquim Martins Borges importou
ilegalmente um lote de Gir, realizando uma verdadeira façanha para atravessar os animais em solos brasileiros
pelas fronteiras bolivianas.
1958-1963: O espanhol radicado em Londrina enfrentou as barreiras sanitárias e as resistências a novas
importação dentro da Sociedade Rural do Triângulo Mineiro (SRTM), conseguindo realizar uma expressiva im-
portação iniciada em 1958. Seguindo seus passos, Torres Homem Rodrigues da Cunha, Rubico de Carvalho,
Nenê Costa e o próprio Celso Garcia Cid realizaram uma importação concluída em 1963. Essas importações
foram fundamentais para a consolidação do zebu no Brasil e nos trópicos. Teve impulso nessa dispersão o
advento dos primeiros laboratórios de genética no País.
2008-2012: Entrada de embriões indianos para o refrescamento da consanguinidade dos animais.
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