Page 361 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Outro plano contou com os deputados Gomes da Silva e João José Ludovice, que chegaram a apre-
sentar o projeto nº 150 para a concessão da ferrovia. A vantagem seria a utilização do capital mineiro, o que
significaria lucros para a província de Minas Gerais. O traçado incluiria várias cidades mineiras, sempre em
linha reta, com união dos transportes ferroviário e fluvial. Isso não foi tudo. Conseguiram que a Assembleia
Mineira revogasse a concessão da construção da linha férrea para a empresa paulista, em 1884. O presidente
da província de Minas Gerais, Antônio Chaves (1883-1884) se negava a assinar o contrato com a Companhia
Mogiana, mediante o pedido dos próprios deputados de Uberaba.
Enquanto isso, em Uberaba a população se organizava para viabilizar a chegada da ferrovia. Dentre as
medidas adotadas, surgiu inclusive a publicação de um jornal denominado O Wagoon, ou seja, vagão, em
inglês.
A Mogiana se via pressionada por vários lados e necessitava concluir as negociações. Contra essas três
frentes a Mogiana apresentou sua proposta e venceu. O jornal o Wagoon lutou através da publicação de di-
versos artigos de jornalistas para que a estrada de ferro passasse por uberaba.
O deputado mineiro Kerdole denunciou na Assembleia um fato ocorrido no Hotel Monteiro, em Ouro
Preto, em que o engenheiro Lisboa, furioso com a decisão do presidente Chaves, declarou publicamente que
partia para a Corte e de lá traria um presidente seu para proteger a Mogiana.
De fato, pouco tempo depois, foi nomeado um presidente de origem paulista - Olegário Herculano
d’Aquino e Castro. Pelas mãos desse presidente, a Mogiana conseguiu a assinatura do contrato da Lei nº
2.791, no dia 1º de outubro de 1884. Realmente, dois meses após a sua posse, assinou o contrato e passados
seis meses pediu demissão do cargo.
O major Joaquim José de Oliveira Pena foi um personagem importante no rumo dos acontecimentos,
anunciando que outras empresas haviam desistido da iniciativa. Ele também serviu de testemunha durante a
assinatura do contrato.
O então presidente Olegário Herculano de Aquino justificou a assinatura do contrato com a Companhia
Mogiana, fazendo referência à cidade de Uberaba:”(...) A passagem pelo Jaguara, beneficiando municípios
vizinhos importantes, como: Sacramento, Araxá, Carmo do Paranaíba e outros, não deve trazer prejuízo a
Uberaba, ao contrário, esta florescente localidade colherá vantagens, de que se aproveitarão os municípios
de Monte Alegra, Prata, São José do Tijuco, desta província e diversas povoações do sul de Goiás, e que ne-
cessariamente hão de se provir do contrato que me lisonjeio de haver firmado, ainda que com oposição de
alguns, convencido, como estou, de haver assegurado o maior beneficio que na ocasião me era dado faze a
esta província. O tempo justificará as minhas previsões.”
O percurso foi tortuoso, mas o trem de ferro chegou a Uberaba, vencendo todas as dificuldades. Os
cinco anos que se passaram entre a assinatura do contrato e a inauguração da estação foram o tempo neces-
sário para o esquecimento das opções cogitadas, dos inúmeros trajetos discutidos. A população aguardava
ansiosamente a chegada da locomotiva.
A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro
foi inaugurada em Uberaba, no dia 23 de abril de
1889, no bairro Boa Vista. A estação ficava no final
da rua do Comércio, atualmente rua Arthur Ma-
chado. Na foto abaixo vê-se uma Locomotiva da Autor não identificado / Acervo particular de Eliana Portelinha
Mogiana que percorria o trecho de Uberaba - Cam-
pinas, na antiga estação Engenheiro Lisboa, atual
estação Tancredo França, em Conquista. A máqui-
na, tombada pelo Conselho de Patrimônio Históri-
co e Artístico de Uberaba, CONPHAU, atualmente
se encontra em exposição na Pç. José P. Rebouças.
Locomotiva da Mogiana. Rua Menelick de Carvalho.
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