Page 219 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
P. 219
ELITES REGIONAIS NO SERTÃO DA
FARINHA PODRE NO SÉCULO XIX
Flávio Henrique Dias Saldanha
O presente texto tem por finalidade fazer um breve apontamento sobre as elites políticas que atuaram
no Sertão da Farinha Podre, atual região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no Estado de Minas Gerais,
ao longo do século XIX. De modo geral, referindo-se a elites, José Murilo de Carvalho afirma que “boa parte
da literatura sobre elites de alguns anos atrás preocupava-se (...) com a pergunta quem manda, isto é, com
a identificação precisa das pessoas ou grupos que realmente exerciam o poder” (CARVALHO, 2003, p. 51).
Carvalho, longe de querer esgotar o assunto em tela, considera “que as decisões de política nacional eram
tomadas pelas pessoas que ocupavam os cargos do Executivo e do Legislativo, isto é, além do imperador, os
conselheiros de Estado, os ministros, os senadores e os deputados” (CARVALHO, 2003, p. 51). Nesse aspecto,
em particular, consideramos pertinente transferir a pergunta “quem manda” para a região do Sertão da Farinha
Podre. Afinal, quem eram as elites dirigentes que atuaram na região em foco no Brasil imperial?
Antes, porém, um esclarecimento se faz necessário.
Claro está que ao fazermos a indagação acima, não estamos apenas considerando como elitistas aque-
les que ocupavam cargos públicos e administrativos, mas, igualmente, outros critérios, como: poder aqui-
sitivo, prestígio familiar e grau de instrução. Desta feita, não podemos esquecer, em se tratando do Brasil
imperial, da prática legal da escravidão. Afinal, estamos lidando com uma sociedade escravocrata e, conse-
quentemente, possuir escravizados e também terras era sinal de distinção social e prestígio entre aqueles que
os possuíam. Dito em outras palavras, possuir escravizados e terras era sinônimo de fortuna. No entanto, uma
questão se coloca: “com quantos escravizados se considerava ser membro da elite?”
Com base neste questionamento, consideramos apropriado adotar posição semelhante a de Marcos
Ferreira de Andrade. Este, ao analisar a composição da fortuna e riqueza das elites políticas da região de Cam-
panha, no sul de Minas Gerais, destacou que um homem rico e, acima de tudo, pertencente à elite local,
seria aquele que possuísse mais de vinte cativos (ANDRADE, 2008, p. 71).
Podemos citar, a título de exemplo de elites locais no Sertão
da Farinha Podre, dois nomes, a saber: Antônio Estáquio da Silva
e Oliveira, mais conhecido como major Estáquuio, e Antônio Elói
Cassimiro de Araújo, o barão de Ponte Alta.
Comecemos pelo major Estáquio. Os seus traços fisionomi- Superintendência do Arquivo Público de Uberaba
cos, reconstituidos através de documentos históricos, foram vigo-
rosamente fixados na tela pelo pintor uberabense Arnold Maga-
lhães, conforme se observa na imagem ao lado:
Segundo Guido Bilharinho (2007), Antônio Estáquio da Silva
e Oliveira nasceu em Ouro Preto/MG, em 1770. Era filho do sar-
gento-mor João da Silva e Oliveira e de dona Joanna Francisca de
Paiva. Convém destacar que Antônio Estáquio foi irmão do capitão
Domingos da Silva e Oliveira, o primeiro presidente da câmara dos
vereadores da vila de Uberaba. Outro irmão de Antônio Estáquio foi
Joaquim da Silva e Oliveira, um dos maiores proprietários rurais da Sargento-mór Antônio Eustáquio da Silva e
Oliveira, fundador da cidade de Uberaba.
região de Uberaba no século XIX.
Foto: Lavoura e Comércio, 19 de fevereiro
de 1936
217