Page 204 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
P. 204

danificado) em grande numero de cavalleiros na estrada que desta vae dar à cidade
                                        de Sacramento, afim de encontrar com o Correio. bPouco a pouco esse grupo foi-se
                                        augmentando com um numeroso contingente de homens e mulheres a pé, que se
                                        lhe haviam ido unir. Era indescriptivel o delírio dessa multidão que ia receber dentro
                                        em pouco a confirmação de que eram, de facto, cidadão livres. Às 14 horas da tarde
                                        appareceu deante de uma multidão o estafeta conduzindo dous animaes com as malas
                                        do Correio. Um grito uníssono de viva a liberdade irradiou de toda aquela massa de
                                        povo e ao estampido de innumeros fogos, que ao ar subiam de todos os recantos da
                                        cidade, enquanto a banda de musica União Uberabense, ahi portada com o povo, fazia
                                        ouvir uma peça magnífica, as mulheres de cor, n’um enthusiasmo que não se descreve,
                                        arrancavam as fitas de seus cabelos, penduravam laçadas sobre as malas do correio e
                                        adornavam com corôas de flôres naturaes as referidas malas, o estafeta e os animaes.
                                        Em prestito imponentissimo desceu pela rua do Commercio toda aquella alluvi (jornal
                                        danificado) povo, bradando vivas à liberdade, indo à frente os cavalleiros com largas
                                        bandeiras, em seguida um grande grupo de mulheres de côr no meio das quaes iam
                                        os anemaes do Correio pondo os laços de fitas por jovens pretas vestidas de branco.
                                        Fechando o prestito desciam um grosso pelotão de homens a pé e a banda musical
                                        União Uberabense. Essa marcha se fazia ao som das peças executadas pela referida
                                        banda, aos gritos enthusiastico que partiam da multidão à qual se iam juntando homens
                                        e mulheres sem distincção de côr e de classe.
                                             Percorreram as ruas do Commercio, do Mercado, do Imperador, Guttemberg,
                                        Municipal, Vigário Silva, Liberdade e Santo Antonio, as quaes achavam-se ornadas
                                        com arcos de flores, sendo recebidos no Largo da Matriz, onde funcionava a agencia
                                        do Correio, pela banda musical Philarmonica Uberabense, que executava o Hymno
                                        Nacional. Deante da agencia agglomerou-se todo o povo. Enquanto esperava-se
                                        a abertura das malas foi entoado o hymno da independencia, acompanhado pela
                                        Philarmonica.
                                             (jornal danificado) durante todo o percurso daquella marcha, reproduziam-
                                        se os vivas à liberdade, à Princesa I Regente, ao gabinete 10 de março, à imprensa
                                        abolicionista, ao Imperador, etc. Abertas as malas, foi lido em alta voz pelo Dr. Joaquim
                                        José Saraiva Júnior, ex-promotor publico desta Comarca o decreto nº 3353 de 13 de
                                        Maio de 1888. Terminada a leitura, a uma breve allocução feita pelo Dr. Saraiva toda
                                        aquela multidão agradecida ao throno respondeu com um viva à Princesa I Regente.
                                        Foram  se dissolvendo  pouco a  pouco.  À noute  organizou-se uma  marche  aux
                                        flambeaux, acompanhada pela União Uberabense, e fallaram então sobre a abolição
                                        os Drs. João Caetano, Francisco Lemos, Mello Menezes, Gabriel Junqueira, Joaquim
                                        Botelho, Chrispiniano Tavares e outros, terminando-se os festejos na melhor boa
                                        ordem. Foi uma manifestação imponentissima do rigosijo popular. Todas as classes da
                                        sociedade uberabense, unidas como uma só familia partilharam francamente o justo
                                        jubilo dos descendentes da Africa.

                                                                                    Fonte: Gazeta de Uberaba, 25/05/1888
                                                                                                Acervo: Superintendência do Arquivo Público de Uberaba


                  Edelweiss Teixeira, médico e pesquisador da historia de Uberaba (2001, p. 118), afirmou que as obras da
            igreja do Rosário “iniciou em 1839 e benzida em 1842 pelo coadjutor Pe. Zeferino Batista do Carmo”.

                  Nessa igreja as congadas cantavam e dançavam em louvor a Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
            Com o advento da abolição da escravidão as manifestações tornaram-se populares. Há 130 anos mantém
            esse legado deixado pelos ancestrais negros de geração em geração.
                  Atualmente as comemorações do dia 13 de maio em Uberaba é uma das maiores manifestações cul-
            turais do Triângulo Mineiro.

                  A Superintendência do Arquivo Publico de Uberaba, na execução dos “Anais dos Livros de Atas da Câ-
            mara Municipal de Uberaba de 1857 a 1900”, percebeu que não foi registrado em ata nenhuma menção feita
            pelos vereadores referente à abolição da escravidão em Uberaba.
                  Somente após 127 anos de silêncio é que em 13 de maio de 2015, foi feita uma retratação pela Câmara
            Municipal de Uberaba, registrando em ata um dos maiores acontecimentos da história do Brasil.






            202
   199   200   201   202   203   204   205   206   207   208   209