Page 200 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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ranchos para os novos habitantes, tudo isso a suas expensas e, todos os serviços de abertura de estradas e
            derrubada de matas foram executados pelos seus escravos.
                  Dentre os bens de raiz que constam no inventário de Eustáquio, somente em duas de suas proprieda -
            des havia escravos: na sua residência, na chácara Boa Vista, que se localizava nos subúrbios da Freguesia de
            Uberaba (atualmente Fazenda Experimental Getúlio Vargas), e na fazenda Rio das Pedras, distante desse arraial
            dezoito léguas, equivalente a 87 quilômetros.

                  De acordo com o inventário do major, o seu plantel contava com escravos de diferentes regiões do
            continente africano: Benguela, Congo, Angola ou somente identificado como de nação, que equivale ao
            africano. Tinham também os crioulos, que eram os escravos nascidos no Brasil. E outros identificados como
            escravos pardo, cabra, mulato e caburé. A escravaria do major contava com 33 escravos e a maioria morava
            na chácara Boa Vista. Apenas dois deles estavam na fazenda Rio das Pedras. As idades dos cativos variavam
            de 06 meses a 60 anos. Vieram também para Uberaba negros os negros de outras regiões do continente
            africano, de Moçambique, Mina, Cassanje, Rebollo, Cabinda e Monjolo. Desde o início da formação do arraial
            de Santo Antonio e São Sebastião de Uberaba, quase todos os tipos de serviços executados contaram com a
            mão de obra de africanos e crioulos.




                  MOVIMENTO ABOLICIONISTA EM UBERABA
                  O trabalho dos africanos e africanas escravizados começou a sofrer duras críticas e pressões para seu
            fim, ainda nas primeiras décadas do século XIX. Ao chegar com a corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em
            1808, D. João teve que se comprometer com a Inglaterra de que cessaria o tráfico, algo que somente come-
            çou a tomar forma com lei promulgada em 1831, que não foi efetiva, pois o tráfico continuou acontecendo
            de forma clandestina. Somente em 1850, a Lei Eusébio de Queiroz acabou de vez com o tráfico transatlânti-
            co de pessoas africanas escravizadas. Sabia-se da iminência do fim do regime escravista, as pressões sociais
            internas – movimentos abolicionistas, fugas em massa, etc – vinham crescendo. O governo imperial adotou
            medidas para uma substituição gradual de abolição. Sendo assim, até a decretação da Lei Áurea, em 13 de
            maio de 1888, algumas leis foram sancionadas com este fim: Lei do Ventre Livre (28/09/1871), tornando livres
            todos os filhos de mulheres escravas, nascidos no Brasil; Lei dos Sexagenários, ou “Lei Saraiva Cotegipe”, pro-
            mulgada em 28 de setembro de 1885, libertou todos os escravos com mais de 60 anos de idade; e, por fim,
            a Lei Áurea, de 13 de maio de 1888, que extinguiu de vez a escravidão no Brasil.
                  A partir da promulgação da Lei do Ventre Livre, abriu-se um período que se caracterizou pela propa-
            ganda abolicionista propriamente dita. Esse movimento foi multifacetado, mostrou-se de grande repercussão
            na imprensa da época, em tribunas parlamentares e conferências de salão e, mesmo que essa propaganda
            fosse de alcance restrito aos limites estreitos da diminuta elite brasileira, acabou ganhando força social, com
            a participação de diversos setores, especialmente aqueles ligados aos espaços urbanos e, obviamente, dos
            escravizados e ex-escravizados. Na década de 1880, o abolicionismo realmente tomou força de expressivo
            movimento urbano e popular, alastrando-se pelas ruas em animados comícios, manifestações e em grandes
            enfrentamentos com a polícia.

                  A cada dia a campanha abolicionista ganhava mais adeptos de diversos setores da sociedade, poden-
            do mesmo ser considerada a primeira campanha nacional verdadeiramente popular. Alguns abolicionistas,
            como: José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, André Rebouças, Antônio Bento, Castro Alves, João Alfredo,
            João Clapp, Luís Gama, ganharam destaque em toda a imprensa nacional.

                  Nesse período a imprensa uberabense fez o seu papel, travando fortes debates em prol do movimento.
            Os jornais Gazeta de Uberaba, O Waggon e o Correio Uberabense de 1879 a 1888 incentivaram fortemente
            os abolicionistas em Uberaba, como constatam os anúncios a seguir.
                  “Que os bons exemplos sejam seguidos”, essa foi uma das estratégias usada pela imprensa abolicionista
            elogiando os senhores quando libertavam seus escravos.



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