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MINAS GERAIS

                  Os rumores sobre os primeiros achados auríferos pelos bandeirantes, nas Minas Gerais, foi a partir do
            final do século XVII, entre 1693 e 1695. De modo que a boa nova foi se espalhando e milhares de forasteiros,
            principalmente sem grandes recursos financeiros, procedentes de todas as partes do território brasileiro, mu-
            davam para as minas.

                  Essa verdadeira corrida do ouro, até então nunca vista, foi relatada por Giovanni ou João Antonio Andre-
            oni, mais conhecido por Antonil, ou André João Antonio, seu pseudônimo literário, era um religioso jesuíta,
            que por volta de 1710, escreveu:

                                             A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a meterem-
                                        se por caminhos tão ásperos como são o das minas, que dificultosamente se poderá
                                        dar conta do número das pessoas que atualmente lá estão (...) Das cidades, vilas,
                                        recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos e muitos índios, de que os
                                        paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres,
                                        moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos, e religiosos de
                                        diversos institutos, muitos dos quais não tem no Brasil convento nem casa. (ANTONIL,
                                        2007, p. 226)

                  Nas regiões em que se encontravam as jazidas foram grandes as transformações: a sede insaciável do
            ouro fez nascer, em curto tempo, vilas e cidades como vila Rica (atual Ouro Preto), Congonhas do Campo,
            Mariana, São João Del Rei e Sabará.

                  Nessa época a população de Minas Gerais cresceu assustadoramente. Há estimativas de que, em 1786
            havia aproximadamente 394 mil habitantes, correspondendo a cerca de 15% de toda a população que vivia
            na América Portuguesa. Não esquecendo que os cativos chegaram a representar, em 1786, quase 50% da
            população total que vivia na capitania.

                  As condições de trabalho nas minas de ouro eram muito extenuantes; os escravizados tinham expec-
            tativa de vida menor e sofriam muito mais com doenças e acidentes. Viver em ambientes majoritariamente
            urbanos trouxe nova dinâmica para o trabalho escravo, maiores possibilidades de serviços e perspectivas de
            alforria.


            UBERABA

                  No oeste mineiro as primeiras povoações que surgiram tiveram ainda orientações pelas descobertas
            auríferas, nesse contexto em 1760, deu-se início à formação do arraial de Nossa Senhora do Desterro do Dea-
            semboque, em torno das jazidas da cabeceira do rio das Velhas.

                  A região experimentou um estrondoso crescimento: Desemboque chegou a ter, em 1765, “195 fogos”
            (casas) com, aproximadamente, “1.300 almas” (habitantes). De acordo com Lourenço (2009), a hipótese de
            que a prosperidade de Desemboque se deveu muito mais ao contrabando do que à mineração, já havia sido
            aventada pelo historiador uberabense Ronaldo Cunha Campos, que ainda lembrou outra evidência: “o fim
            das derramas, no início do século XIX, coincidiu com o princípio da decadência do povoado (NABUT, 1986).
            Mas, como aconteceu em quase todas as regiões de Minas Gerais onde se encontrava ouro, à medida em
            que as minas iam se esgotando, as cidades formadas nessa região mineira iam se esvaziando. A chamada di-
            áspora mineira, após a decadência da atividade extrativa do ouro, levou muitos colonizadores para as regiões
            mais a oeste do que viria a ser Minas Gerais. Com a decadência das minas de ouro também no Desemboque,
            muitos forasteiros migraram a procura de outras atividades em regiões próximas.
                  Em 25 de maio de 1807, Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira saiu de Ouro Preto e veio residir em
            Desemboque; três anos após, Antônio organizou a primeira bandeira em Desemboque e fez uma investida
            na região onde hoje localiza-se Uberaba, indo até o rio da Prata, formado pelos rios Piracanjuba e do Peixe,
            retornando depois de dois meses.


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