Page 199 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Entre maio e setembro de 1812, a bandeira de Antônio Eustáquio fez a segunda entrada, passou pelo
               arraial da Capelinha (atual bairro de Santa Rosa) e percebeu que o local não era ideal para a fundação de um
               povoado. Eustáquio percorreu mais quinze quilômetros a oeste, na confluência do córrego das Lajes com
               o rio Uberaba, onde se instalou e construiu sua casa de morada em fins de 1812, denominada chácara Boa
               Vista.

                     Segundo Lourenço (2009), os arraiais fundados no extremo oeste mineiro resultaram, em todos os
               casos, de iniciativas das oligarquias rurais, pela formação de patrimônios religiosos. Um fazendeiro – ou um
               grupo de fazendeiros vizinhos – doava um trato de terra ao patrimônio de um santo. Esses vizinhos, organi-
               zados numa irmandade religiosa, erigiram uma capela, e tratavam de conseguir sobre ela a benção do vigário
               da freguesia.

                     No mesmo ano de 1812, um vizinho de Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, que tinha se apossado de
               terras indígenas doou parte delas ao patrimônio devotado a Santo Antônio e São Sebastião, iniciando, nos
               anos seguintes, a ereção da capela. A autorização se deu através do alvará de 1818 e o padre Hermógenes no
               mesmo ano abençoou a capelinha do arraial. Dessa forma se deu o surgimento do arraial de Santo Antônio
               e São Sebastião de Uberaba.



                     ESCRAVIDÃO EM UBERABA

                     O acervo da Superintendência do Arquivo Público de Uberaba conta com documentos referentes à
               escravidão no município e na região, tais como: processos criminais, inventários post-mortem, livros do Car-
               tório do 2º Ofício de Notas, escrituras e procurações e registros paroquiais. Tais documentos, principalmente
               os cartoriais, vão ao encontro do que afirmam os historiadores Manolo Florentino e José Roberto Góes:

                                                [...] o escravo era uma mercadoria, objeto de mais variadas transações mercantis:
                                          venda, compra, empréstimo, doação, transmissão  por herança,  penhor, sequestro,
                                          embargo, depósito, arremate e adjudicação. Era uma propriedade. O ordenamento
                                          jurídico da sociedade o constituía como tal, exceto no que concerne a transgressão da
                                          lei. Gorender tem razão, aliás, ao considerar que “o primeiro ato humano do escravo é
                                          o crime”. A legislação cuidou, é verdade, de regular o seu uso, como sói acontecer com
                                          outros tipos de propriedade. A proibição de castigos cruéis é um exemplo. Mas apenas
                                          reconhece humanidade no escravo por ocasião do crime, pois, afinal, nenhuma outra
                                          propriedade é punível. Pode-se dizer, portanto, que o crime era o primeiro e único ato
                                          do escravo que o humanizava – na lei [...]. (FLORENTINO & GOÉS, 1997)
                     A historiografia da escravidão tem tentado há muitos anos desenvolver uma interpretação adequada
               para compreender as relações entre senhores e escravos. O jesuíta Antonil disse: “os escravos são as mãos e
               os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é possível fazer conservar e aumentar fazenda”
               (ANTONIL, 2007). Por muitos anos os historiadores compuseram um quadro em que a violência inerente ao
               processo de escravização era o foco principal: castigos que desumanizavam e jornadas de trabalho exausti-
               vas eram a parte do cotidiano do escravizado, que salta nas discussões. Na região de Uberaba a escravidão
               tinha como características os pequenos plantéis que trabalhavam em roças e pecuária. Mais estudos sobre o
               que faziam e onde trabalhavam ainda precisam ser realizados.
                     Para retratar um pouco do tema escravidão em Uberaba, citaremos apenas os negros escravizados que
               pertenceram ao fundador de Uberaba, major Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira, por terem muitos deles
               talvez vindo juntos com o major para estas paragens.
                       Lafayette de Toledo, jornalista, que viveu em Uberaba durante muitos anos e depois se mudou para
               Casa Branca/SP, entre 1888 e 1889 enviou para o jornal Gazeta de Uberaba, transcrições de uma série de
               documentos que estavam em seu poder. São correspondências entre autoridades públicas, tratando, entre
               outros, de assuntos relativos ao major Antônio Eustáquio. Toledo, em um artigo publicado no jornal Gazeta
               de Uberaba de 15 de setembro de 1888, informou que Eustáquio, além de incentivar as pessoas de comarcas
               vizinhas a se estabelecerem no novo povoado de terras fertilíssimas, abriu estradas, derrubou matas, edificou


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