Page 346 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Em Uberaba se tem notícias de práticas religiosas de matriz africana desde o século XIX. No acervo da
            Superintendência do Arquivo Público de Uberaba consta um processo criminal de 8 de dezembro de 1858,
            sobre alguns escravizados que foram acusados de feitiçaria: o africano Pai Domingos, Ritta Crioula, Reginaldo
            e Pedro Muleque. Tudo começou com o falecimento repentino do senhor Francisco Ignácio da Silveira, na
            fazenda Três Barras. O próprio Pai Domingos afirmou que era o responsável pelos cultos que eram dedicados
            às almas. Tudo acontecia dentro da senzala, altas horas da noite e encerrava antes do cantar do galo.

                  Desde o século XIX e boa parte do século XX as práticas religiosas de matriz africana em território na-
            cional eram feitas escondidas, na clandestinidade. Somente na constituição de 1946, o então deputado Jorge
            Amado, autor da emenda 3.218 inseriu o § 7º do art. 141: “É inviolável a liberdade de consciência e de crença
            e assegurado o livre exercício dos cultos religiosos, salvo o dos que contrariem a ordem pública ou os bons
            costumes. As associações religiosas adquirirão personalidade jurídica na forma da lei civil”. A partir dessa lei
            muitos líderes de religiões de matriz africana que viviam na clandestinidade passaram a legalizar seus terreiros,
            mas mesmo com a lei as perseguições a essas práticas religiosas não deixaram de existir.
                  De acordo com documentação oficial, a referência mais antiga encontrada sobre terreiros em Uberaba
            é da Tenda de Umbanda Caboclo Pena Verde. De acordo com seu estatuto, a Tenda foi fundado em 23 de
            junho de 1956, tendo como sócios fundadores José Ferreira (presidente), Manoel Caetano da Silva Junior
            (vice-presidente), José Maria Pereira, Guido Castino, Manoel Caldas Junior e Geraldo Deviva Veloso.

                  O jornalista Jorge Alberto Nabut, em sua obra “Coisas que me contaram Crônicas que Escrevi”, publi-
            cada em 1978, citou várias tendas de umbanda: Caboclo Pena Verde, Mãe Maria de Moçambique, São Jorge,
            Tupi Tupiara, Tendas do João Gago, Pai Serrador, Pai Domingos, dona Isoleta, Vovó Rosa, Mamãe Oxum,
            Terreiro das Sete Flexas, etc.

                  Em relação ao candomblé em Uberaba, o terreiro mais antigo é o Ilê de Ogun-Já, fundado por Iya
            Marlene (Marlene Trindade de Araújo), primeira casa de Candomblé Ketu registrada em Uberaba. No dia 19 de
            janeiro de 1973 foi realizado o primeiro xirê de candomblé Ketu em Uberaba. Xirê é uma palavra em yorubá
            que significa roda, ou dança utilizada para evocação dos orixás conforme cada nação e, Ilê quer dizer casa
            ou terreiro.

                  Atualmente a Fundação Cultural de Uberaba está fazendo um levantamento para identificar os terreiros
            de religião de matriz africana existentes em Uberaba. Até o momento a iniciativa engloba 12 casas, sendo
            três tendas de umbanda e nove terreiros de candomblé. Nas cinco que já participavam, foram incluídas, por
            enquanto, Asé Toby Odé Kolê, de Pai Vitor Oxossi; Asé Olorokê Ti Efon Áfin Omo Ayra, de Pai Rogério; Afim
            Osumare, da Mãe Bia Ty Oxumare; Asé Ayra Intilé, do Pai Gabriel Ty Ayra; Inzo Ione Ria Inkosi, do Babá Sirley
            Moura; Ilê Alaketu Oluwa Bi Orun, do Babá Rafael Cherin; e Tenda de Umbanda Tupi Tupiara, da Gina. Pode-
            mos afirmar que existem centenas de terreiros espalhados nos perímetros urbano e rural de Uberaba.






























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