Page 29 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
P. 29
Orlando Ferreira
Orlando Ferreira, conhecido como Doca, nas-
ceu em Uberaba no ano de 1886. Exercia o jornalis-
mo independente, que criticava as elites econômi-
cas, políticas e religiosas da cidade. Escreveu seus
livros entre os anos de 1919 e 1956.
Foi funcionário dos Correios e inspetor da 23ª
circunscrição literária de Minas Gerais. Além disso, foi
professor e vendedor de gado. Declarava-se espírita
e comunista.
Crítico e contestador defendeu, na década de
1920, a ideia de transferir a administração política da
região do Triângulo Mineiro para o estado de São
Paulo. Para Orlando Ferreira, Uberaba não era a Prin-
cesa do Sertão, como os memorialistas costumavam
chamá-la, mas a “mucama do sertão”, criticando a
indolência dos mineiros.
Publicou diversos livros: Pela Verdade: Catoli-
cismo versus Espiritismo, em1919; Uberaba: O Triân-
gulo, em 1919; Terra madrasta: Um Povo Infeliz, em
1928; Capitalismo e Comunismo, em 1932; Ilusões
capitalistas, em 1932; Forja de anões, em 1940; O
Orlando Ferreira
1886 a 1957 Pântano Sagrado, em 1948; Rui Barbosa e Seus De-
tratores, em 1921 e A Origem Divina do Espiritismo,
em 1956.
O primeiro livro que escreveu no ano de 1919, intitulado Pela Verdade: Catolicismo x Espiritismo, defen-
de o espiritismo buscando demonstrar como o catolicismo fanatiza as pessoas e que seria responsável pelo
atraso do povo brasileiro. Critica o dogma da resignação que manteria o povo inerte. Os livros Capitalismo e
Comunismo e Ilusões Capitalistas, revelam a interação de Doca com comunistas uberabenses e a influência
do comunismo em sua ideologia.
Outro livro polêmico é Terra Madrasta: Um Povo Infeliz, considerado um de seus principais livros, onde
levantou dados políticos e econômicos da cidade e apontou as forças que, segundo ele, se opunham ao pro-
gresso de Uberaba, como: a gestão administrativa, a política do coronelismo e do Estado, o clero, a Empresa
de Força e Luz e algumas famílias tradicionais da cidade. Abordou temas como a defesa do marxismo, do
comunismo e do espiritismo.
O Pântano Sagrado alega o obscurantismo do clero, que segundo Doca fazia mal para a cidade. A obra
faz elogios ao espiritismo e ao protestantismo e contém várias sátiras ao papa Pio XII. Ao longo dessa obra
os ataques foram muitos contra o bispo de Uberaba, dom Alexandre Gonçalves do Amaral. Os livros foram
apreendidos e queimados em uma delegacia de polícia.
Doca redigiu cartas anônimas ao clero de Uberaba e foi judicialmente obrigado a fazer uma retratação
pública no Jornal Lavoura e Comércio, confessando os crimes de calúnia, injúria e difamação contra o arce-
bispo de Uberaba e família.
O livro Forja de anões, constitui um misto de ironia e indignação escrita em tom panfletário sobre os
malefícios do futebol. Doca enviou um exemplar dessa obra ao ministro da Educação da época, Gustavo
Capanema, mostrando os efeitos nocivos que o futebol desencadearia na sociedade.
Orlando Ferreira faleceu em Uberaba no ano de 1957 deixando obras que contestaram a sociedade
uberabense da década de 1910 a 1950.
27