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Primeiros contatos com a bola

                   Minha mãe não aceitou imediatamente. Consultou o Rui Vitoriano de Rezende,
               que era responsável pelas categorias de base e os meus pais solicitaram minha partici-

               pação na escolinha. No começo o Rui tentou uma democratização e passou a perguntar
               aos pais dos outros alunos, e na época o Abocater era o presidente. No princípio tinham

               aquele temor de que eu pudesse me machucar, por ser uma garota e todos diziam que
               era sexo frágil. Eu não concordo com isso e acho que nós, garotas, somos tão fortes
               quanto o sexo masculino, ou até mais. Hoje as mulheres são tão competentes ao ponto

               de desempenharem atividades no mundo político, na Medicina, na Engenharia Civil
               e até no mundo das obras. Eu tenho amigas que são mestres de obras e serventes de pe-
               dreiro. Acredito que a mulher é tão competente quanto o homem para fazer qualquer

               coisa no mundo, inclusive jogar futebol.
                   Sou prima do Rodrigo Mendes, que jogou no Flamengo e no Grêmio. Nossos pais,
               Joaquim e Odair, são irmãos. E tenho primos que já fizeram parte do Nacional, como

               o Shell. Pelo fato de o Rui saber do histórico da família, se interessou em realizar os
               treinamentos comigo.

                   Eu treinava separado dos meninos. Às vezes o Rui tentava fazer treinos mais leves
               e no decorrer do tempo percebeu que não era necessário e que o meu treinamento não
               precisava ser diferenciado, pois eu tinha a mesma competência física, tática e técnica

               que os garotos. Então, ele me deixou participar dos coletivos. Ele começou a marcar
               alguns amistosos com algumas equipes de Uberaba para que eu pudesse participar.

                   Em Uberaba ocorreu uma discussão na Liga Esportiva Uberabense sobre eu poder
               disputar partidas com os meninos, porque a regra não diz que “sim”, mas também não
               diz que “não”. Essa situação provocou uma votação com os técnicos do Independente,

               Fabrício, Uberaba Sport e Beira Rio, onde foi negado o pedido.
                   Diante disso eu ficava apenas nos treinamentos. Eu era a única menina no meio
               de trezentos ou quatrocentos meninos. Esse período ocorreu na minha vida dos meus 7

               anos aos 16 anos de idade.


                                                     Carreira

                   Foram quase dez anos de história antes de me tornar jogadora profissional. Foi
               quando eu recebi uma proposta de jogar no Cruzeiro Futebol Clube, meu primeiro

               clube.





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