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Padre Prata, o articulista









                              m 1945 iniciou uma produ-              virtude. Ele é de carne e osso. Está em
                              ção de artigos com temáti-             toda  parte.  Em  todos  os  ambientes.  Se

                      Ecas diversificadas, que foram                 por um lado nos sugere coisas muito
                   publicados inicialmente no jornal “O              dignas de um cristão, por outro lado ele
                   Diário” de Belo Horizonte. Depois                 nos irrita e nos tira a paz interior. O que

                   disso, em 1947, passou a escrever no              nos faz mais felizes na terra é a paz. Pois
                   jornal uberabense “Correio Católico”,             bem, é justamente “ele” (de carne e osso)
                   antecessor do “Jornal da Manhã”. Ao               que perturba o nosso espírito. Ele põe

                   mesmo tempo, fez uma coletânea de                 maldade em tudo o que dizemos com reta
                   orações, que ele mesmo utilizava nos              intenção. Ele joga uns contra os outros. É
                   seus momentos de silêncio. Escreveu               ele que torce nossas palavras. Confunde

                   também diversos poemas, tendo guar-               alhos com bugalhos. Não suporta o
                   dado alguns e registrados outros nos              bem-estar dos outros. Sente dor quando

                   diversos livros de sua autoria.                   elogiam alguém ao seu lado. Ele estraga
                       Abaixo segue coletânea de artigos             seus momentos  felizes. Ele é chamado
                   escritos pelo Padre Prata, editados no            de “o Maligno”. Outros o chamam de

                   Jornal da Manhã:                                  Satanás.
                                                                        O mundo está cheio dessa gente
                    Não seja um demônio                              maligna. Há alguns ao nosso lado.

                         na vida do outro                            Chegam até fingir de amigos.

                                                                         Mas o pior, o mais triste, o mais

                          Perdoar não á apenas uma virtude. A        terrível é que eu posso ser um demônio
                       mais difícil de todas as artes. O “outro”     na vida dos outros. Com minha falta de

                       nos faz sofrer muito. Parece, às vezes,       compreensão, com minha incapacidade
                       que a verdade está mesmo com Sartre:          de perdoar. Com minha intolerância.
                       “O  inferno  são  os  outros”  (L’enfer  sont   Com meus comentários maldosos. Com

                       les autres). O inferno não está do outro      minha falta de compaixão. Com minhas
                       lado. Na dimensão da eternidade não           injustiças. Com minha falta de amor.

                       há tempo nem lugar. O tão caluniado           Quando interpreto mal os atos dos
                       demônio não é um espírito que está ao         outros, eu me torno um demônio em
                       redor de nós e nos tira do caminho da         suas vidas, eu estou roubando a paz que



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