Page 78 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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A PRINCESA DO SERTÃO
Paulo Fernando Silveira
Juiz Federal Aposentado. Jurista e escritor. Membro da Academia
de Letras do Triângulo Mineiro-ALTM, ocupando a cadeira nº 20
De Araxá, Dona Beja, ao receber a notícia preocupante,
Lança longe seu olhar indagador e penetrante
Para o lado do Sertão da Farinha Podre, a oeste,
Perscrutando a desabitada vastidão de cerrado agreste
E percebe, com inesperado espanto na bela face,
Que muito cresceu a comunidade que ali aparece.
Com tristeza e angustiada, sentindo o fim da época brilhante,
Da riqueza fácil dos diamantes, ela reconhece, na hora,
Que a linha da fronteira avançou, agora
Alcançando o arraial do Desemboque, no horizonte distante,
Não sendo mais pela terra dos índios Araxás delimitada,
Mas, pela dos Caiapós, fora substituída e dominada.
Eram esses valentes, corajosos e destemidos combatentes,
Desde tempos imemoriais, com segurança e tranquilidade,
Senhores de um vasto território, de terras férteis e águas abundantes,
Situado entre a margem direita do calmo Rio Grande, atrás,
Até o Pontal na junção com o Rio Paranaíba, de grande agilidade,
Alcançando, do outro lado deste, o sudeste de Goiás.
Raça indômita livre, imponente, de fortes guerreiros,
Apenas defendendo a terra ancestral e a prole, desesperados,
Em batalhas constantes, de lances impiedosos e genocidas,
(Travadas com Pires de Campos e suas hostes fratricidas
De hostis bugres Bororós), pelas quais, mediante golpes traiçoeiros,
Foram, sistematicamente, extintos e dizimados.
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