Page 534 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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A primeira indústria da cidade surgiu antes mesmo de Uberaba ser oficialmente reconhecida como
Freguesia (termo equivalente à Paróquia, muito importante na época). Era a Olaria dos Cláudios. Fundada em
1817 na chácara dos Pinheiros, onde atualmente se localiza a praça cel. Manuel Terra, em frente à penitenciá-
ria (hoje, Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, UFTM) e ao mercado munici-
pal, a Olaria produziu as primeiras telhas rústicas para as casas do arraial de santo Antônio.
Outras pequenas fundições de ferro destinadas a produzir ferraduras e peças de reposição de carros de
bois, portas, grades e demais utensílios domésticos. Um dos principais ferreiros no início da vida urbana de
Uberaba localizava-se próximo à casa construída por major Eustáquio, no atual calçadão da Arthur Machado.
O ferreiro era um escravo do major e tinha tanta influência sobre o cotidiano da Vila que o logadouro onde
morava passou a ser conhecido com rua do Fogo, em referência à forja que mantinha acesa invariavelmente.
Em 1828 a Vinícola Uberabense deu os primeiros passos na produção de vinho. Padre Zeferino trouxe
os primeiros bacelos de vinha do Desemboque e posteriormente estabeleceu uma vinícola em sua chácara,
onde atualmente se localiza a rua Padre Zeferino. A indústria vinícola uberabense atingiu grande desenvolvi-
mento na cidade, nas décadas posteriores, sendo que garrafas de vinhos eram exportadas para outros países.
Dizem que se tratava de um excelente produto. Tudo acabou em 1895, quando uma doença extinguiu os
vinhedos. Consta que padre Zeferino avistava a Igreja Matriz dos portões de sua chácara.
Em 1850 surgiu a Fábrica de Chapéus de Uberaba, cujo proprietário era Luís Soares Pinheiro. Naquela
época, praticamente toda a população masculina utilizava essa peça do vestuário. Por isso, a demanda por
chapéus era tão grande que o proprietário contratou imigrantes europeus especializados nesse tipo de pro-
dução. Trouxe também ovelhas para serem criadas em Uberaba destinadas ao fornecimento de lã e matéria-
-prima.
A Ferraria do Fabrício surgiu em meados do século XIX. Fabrício José de Moura estabeleceu-se no
Alto do Boa Vista, no local onde atualmente se localiza a praça Santa Teresinha (continuação da rua João
Caetano), no bairro que ficou conhecido com o seu próprio nome. Ele desenvolveu três atividades especí-
ficas: hotelaria; tenda de ferreiro, onde produzia foices, machados, enxadas e ferragens de carro; e escola.
O local escolhido era ideal para ampliar os seus negócios, onde hoje se encontra a praça Santa Teresinha.
Nessa época, as comitivas de carros de bois entravam em Uberaba, pelo atual bairro Fabrício, passando pelo
rio Uberaba e avenida Pedro Lucas, trazendo mercadorias para serem comercializadas no centro comercial
da cidade: açúcar, sal, querosene e outros utensílios domésticos. Depois de uma longa viagem, que durava
semanas e até meses, num percurso que ia da região Norte, que abrangia o norte do Triângulo Mineiro, sul
de Goiás e Mato Grosso do Sul, paravam para abastecer em frente ao estabelecimento do Fabrício, em frente
a atual praça Santa Teresinha, pelos lados da rua Ricardo Misson. Na oficina do Fabrício faziam reparos em
seus veículos, consertavam ferraduras de animais e aproveitavam para descansar na hospedaria do Fabrício,
que se localizava ao lado da oficina, na atual rua Treze de Maio. Assim refeitos de um trajeto longo, seguiam
descendo a ladeira da rua João Caetano até atingir o centro da cidade. Além da oficina e da hospedaria, o
Fabrício tinha outra atividade: escola. Recebia para ensinar a ler e escrever; e a arte de ferreiro, gratuitamente,
por um, dois ou mais anos, muitos rapazes vindos não só do Triângulo, mas de pontos remotos de Goiás. A
leitura era ministrada nas escolas públicas da cidade e o ofício, em sua tenda. Consta que sua hospedaria se
transformava em hospital, recolhendo enfermos vitimados por epidemias ou feridos da guerra do Paraguai.
Sua presença marcante durante quase meio século, provocou até a mudança no nome do bairro que deixou
de ser denominado “Boa Vista” e passou a ser denominado “Fabrício”.
A produção de roupas era feita na Fábrica de Coletes Madame Florina Raile. 1899. Produzia coletes,
cintos e adornos para vestuário feminino. Localizava-se na rua do Commercio, onde atualmente se localiza
o calçadão da Arthur Machado.
Várias fábricas de fumo se destacaram no século XIX e início do século XX, pois o hábito de comprar
fumos e produzir seu próprio cigarro de palha fazia parte do cotidiano da cidade no passado. Algumas lojas
destinavam-se apenas à venda do produto, mas a maioria produzia o seu próprio fumo.
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