Page 45 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Estes são os anos iniciais da Schroden Films, que durante a década de 1940 realiza dezenas de filmes,
em sua maioria produções de cunho documental. A casa que João construiu, para se casar com Eunice e
abrigar o seu estúdio fotográfico, transformara-se numa produtora cinematográfica de âmbito mundial. Além
do estúdio de áudio, o estúdio fotográfico, o laboratório e a sala de ampliação, o espaço passa a ter uma sala
onde se reuniam todas as produções realizadas pela Schroden Films. Eram dezenas e dezenas de latas de
películas cinematográficas compondo um rico acervo de registro fílmico da história de Uberaba.
Já com mais de trinta anos de profissão, acontece na década de 1950 um fato extremamente marcante
na vida profissional de João.
As películas de Nitrato eram consideradas extremamente perigosas, quando armazenadas, pois cos-
tumavam soltar um gás que podia entrar em autocombustão. Por esse motivo, grandes acervos cinema-
tográficos incendiaram pelo mundo. No Brasil, os casos mais famosos foram os da Cinemateca Brasileira,
que sofreu quatro incêndios, perdendo grande parte do acervo nacional de filmes em suporte de nitrato em
celulose. E com o arquivo de João não foi diferente.
No incêndio ocorrido na sala de arquivo da Schroden Films na década de 1950, perdeu-se mais de dez
anos de produções cinematográficas em 35mm, uma grande perda não apenas para o registro histórico da
cidade, mas para o artista que presenciou o fruto de seu trabalho, que ele havia realizado durante anos com
tamanha maestria, transformar em cinzas bem abaixo de seus pés.
O baque dessa perda foi tão grande, que João passou a dedicar seu tempo a novos experimentos na
fotografia.
Mais do que um excelente retratista e cinegrafista, João foi um excepcional laboratorista, que costuma-
va passar horas isolado, aprimorando suas técnicas e fazendo descobertas com os químicos, num trabalho
que lembrava a de um alquimista.
Um claro exemplo disso foi a sua descoberta ainda na década de 1950, quando poucos estúdios no
mundo conseguiam realizar a revelação de fotografia colorida à luz fria, em Technicolor.
E, em 1956, João Schroden Jr consegue desenvolver a técnica em seu laboratório, realizando uma
importante exposição fotográfica no Jockey Club, com o nome “Exposição Fotográfica em Technicolor, pela
Primeira Vez no Brasil”, onde no livro de presença encontram-se 2018 assinaturas. A notícia correu pelo país,
gerando a visita de técnicos da Kodak do Brasil em Uberaba, vindos do Rio de Janeiro para saber como João
havia conseguido realizar tal feito.
Outro acontecimento importante na vida de João, ainda na década de 1950, foi quando a sua esposa,
Eunice Perroni Schroden, acompanhou um trabalho assistencial realizado pela irmã de Mário Palmério, Maria
Lourencina Palmério, no bairro Abadia. Ao retornar à casa, comenta com João que havia ficado muito impres-
sionada com o que tinha visto e pede ajuda para abrir uma creche, onde as crianças poderiam ser cuidadas,
enquanto suas mães fossem trabalhar. João aceita ajudar, investindo no aluguel de uma casa, que Eunice
deu o nome de “A Pequena Casa de Maria”. Eunice Perroni Schroden, Sylvia Andrade Borba e demais compo-
nentes da Sociedade das Damas Vicentinas de Uberaba conduziram ao longo de décadas um trabalho que
ainda hoje encontra-se em funcionamento, sendo a creche mais antiga de Uberaba em atividade, atualmente
localizada na Avenida Leopoldino de Oliveira.
Nas décadas de 1960 e 1970, as produções de João Schroden e as atividades da creche continuam em
grande intensidade. João foi convidado neste período a compor uma exposição permanente, a galeria dos
ex-prefeitos na Câmara Municipal dos Vereadores, enquanto “A Pequena Casa de Maria” conseguia apoio de
autoridades governamentais.
Os ventos sopravam forte na vida do casal e, na década que se aproximava, completariam 50 anos de
iluminada união, comemorando Bodas de Ouro em 1985.
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