Page 44 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
P. 44

JOÃO SCHRODEN JR.
                             Fabiano Schroden



                  João Schroden Jr nasceu na Alemanha, em Bottrop-Westfalen em 1908. Chegou ao Brasil por volta
            de 1920, com os pais, Johann Schroden e Katarina Speiker Schroden, e suas três irmãs. Desembarcaram em
            Santa Catarina, seguindo posteriormente para Campinas, onde permaneceram apenas por um ano, pois logo
            Johann, como era um excelente mecânico, fecha um contrato de trabalho com a Companhia Mogiana de
            Estradas de Ferro, como preparador das máquinas de águas no percurso Araguari-Uberaba-Franca. Mudam-se
            então para Uberaba, onde Johann iniciaria uma longa carreira na Mogiana, enquanto seu filho, Hans Schro-
            den - já com o nome de registro como João - que desde cedo era inclinado às atividades artísticas, iniciava
            suas aulas de pintura no ateliê de um famoso pintor do início do século XX em Uberaba, Anatólio Magalhães.

                  O ateliê de Anatólio ficava na Rua Vigário Silva, muito próximo à Praça Rui Barbosa.  A ‘Vigário de Ana-
            tólio’ pode ser vista em algumas telas que resistiram ao tempo, espalhadas em alguns pontos da cidade.
            Suas pinceladas traziam divertida poesia ao dia-a-dia da cidade, registrando comerciantes, famílias, crianças
            e ambulantes, entre o gado que chegava e partia. Um fato interessante é que Anatólio inseria a sua presença
            entre o povo em suas telas. E, nas mesmas ruas pintadas por Anatólio, surgia um adolescente, um alemãozi-
            nho apressado para a aula, acostumando-se ainda com a língua local e com seu nome novo. Suas pegadas,
            que até um oceano já haviam cruzado, agora descansavam num discreto ateliê na Rua Vigário Silva, que lhe
            proporcionaria não apenas mergulhos técnicos na pintura, mas, também, o seu primeiro passo numa incrível
            jornada profissional ao longo do século XX.

                  No Ateliê de Anatólio, onde estabeleceu-se uma profícua relação entre mestre e discípulo, João conhe-
            ce a coisa mais importante no universo da imagem, da pintura à fotografia: a luz.
                  E a luz, depositada pela ponta de seu pincel entre tantas telas, foi clareando aos poucos o seu interesse
            pela fotografia. E, ainda dentro do Ateliê de Anatólio, João aprende a fotografar, ateliê que anos depois, alu-
            garia de Anatólio para montar o seu primeiro estúdio de fotografia.

                  Neste período, ainda na década de 1920, João dominou a arte fotográfica de maneira tão intensa, que
            rapidamente tornou-se um retratista muito conhecido, ficando a pintura como um hobby que o acompa-
            nhou ainda por muitos anos. Famílias vinham de longe para fotografar com o jovem João Schroden Jr.

                  Em 1934, aos 25 anos de idade, João começa a construir uma casa próxima ao ateliê de Anatólio, para
            se casar com Eunice Perroni, filha do maestro Alberto Perroni de Batatais-SP. O casamento acontece no dia
            19 de novembro de 1935, alguns meses depois do término da obra. Além da parte térreo como residência,
            na parte superior da casa João constrói seu estúdio, compondo uma construção em Art decó na Rua Vigário
            Silva, local onde permaneceria o resto da sua vida, com sua esposa Eunice e seus cinco filhos.
                  O novo estúdio construído na Vigário Silva solidifica sua profissão, levando-o a novos desafios.

                  João começa a trabalhar com cinema profissional, encomendando filmadoras que rodavam as perigo-
            sas películas de Nitrato- 35mm. Nesta época, faz parte da primeira leva de cinegrafistas brasileiros cadastrados
            no Ministério da Guerra, com a carteira de N.13. Começa, então, a produzir uma série de filmes documentais:
            as visitas de Getúlio Vargas a Uberaba, Juscelino Kubistchek, os Pracinhas indo e vindo da II Guerra, entre mui-
            tas encomendas da ABCZ, entidade para a qual João Schroden trabalhou desde a sua criação até a década de
            1980, compondo um extenso acervo de imagens sobre a introdução e a evolução da raça Zebuína no Brasil.
                  Progredindo na produção de filmes, ainda no final da década de 1930, João decide construir um es-
            túdio de áudio, que importantes radialistas da geração “Repórter Esso” começam a frequentar. As gravações
            eram finalizadas numa película fininha que, depois de adaptada à película cinematográfica, elevavam o filme
            a uma tendência mundial, laboratorialmente falando, ao patamar das produções cinematográficas que deixa-
            vam o cinema mudo para trás.




            42
   39   40   41   42   43   44   45   46   47   48   49