Page 234 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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Empreendedor, construiu o Cemitério São Francisco de Assis (teve duração efêmera), na parte posterior
ao hospital e, na frente, a capela também em homenagem a São Francisco de Assis, congregação religiosa
a qual pertencia. Entre a capela, enfermarias e outros compartimentos havia, no centro, o jardim rodeado de
largas sarjetas e cimento para esgotos pluviais.
Para se ter ideia do volume de esforço empregado e a dimensão da obra, o vereador tenente Wences-
lau Pereira de Oliveira, em sessão da Câmara do dia 18 de janeiro de 1867, fez uma referência ao gigantismo
do edifício da Santa Casa de Misericórdia em Uberaba, “que se encontrava em bom andamento devido aos
cuidados do Reverendissimo Missionario Frei Eugenio Maria de Genova”, e o comparou ao prédio da Cadeia,
mantido pela Câmara Municipal, cujo estado de conservação expirava cuidados. Note-se que o prédio da
Cadeia se localizava nas dependências do prédio da Câmara. (Atas Livro: 01 Página (s): 251 v, 252, 252 v e 253)
Segundo Borges Sampaio, todo o trabalho visava exclusivamente atender a população carente, a qual,
por diversas vezes, se referia como miseráveis ou mendigos. Segundo ele: “o objetivo da Santa Casa era abrir
as portas para a indigência. Sejam-lhe fornecidos os meios de cuidar dos miseráveis enfermos, que se acolhe-
rem ao santuário do seu teto misericordioso. Esteja sempre presente em nosso pensamento, o habitar aqui a
miséria.” (SAMPAIO, P. 161)
Em 1864, Frei Eugênio comunicou à Câmara a aquisição, por conta do próprio hospital, de um pasto
localizado na parte posterior da Santa Casa, e que seria transformado em recepção para pacientes pobres. Em
seguida, conseguiu que a Câmara construísse uma rua em frente ao prédio,que inicialmente ficou conhecida
como rua Santa Bárbara. (Atas Livro: 01; Página (s): 182 v, 183 e 183 v)
Em 1866, devido à Guerra do Paraguai, o hospital acolheu militares e feridos de guerra. Por isso, o presi-
dente da Câmara apresentou ao Ministério da Guerra, pedido de indenização pelos prejuízos causados pelos
estragos feitos na Santa Casa de Misericórdia durante a estada da força enquanto serviu a mesma Santa Casa
de Hospital Militar. Depois de aprovado, a Câmara nomeou uma Comissão para o orçamento. ( Atas Livro: 01
Página (s): 235)
Frei Eugênio faleceu no dia 15 de junho de 1871. Centenas de pessoas da cidade fizeram uma represen-
tação solicitando à Câmara a manutenção da administração no Hospital, em substituição do padre falecido.
Na representação, citaram o seguinte:
(...) O senhor presidente declarou ter convocado a presente sessão extraordinaria
afim de ler-se uma representação assignada por cento e cincoenta e nove cidadãos
reclamando providencias sobre a Santa Casa de Misericordia, afim de serem
acautelados os interesses d’ella visto ter falecido o Reverendo Frei Eugenio Maria de
Genova, sepultado hoje, e que érea o encarregado daquellas obras, visto constar aos
representantes que pelo juiso das ausentes desta cidade se procedia a arrecadação do
dinheiro e valores pertencentes a Santa Casa e que herão provenientes das esmolas e
donativos entregues aquelle encarregado das obras. Resolveu a Camara mandar por
copia a representação ao Dr. Juiz Municipal e ausentes reclamando providencias abem
de acautelarem-se as interfases da Santa Casa que tão bem são as da municipalidade e
municipios e foi assignando os respectivos officios; (Atas, Livro: 02 Página (s): 04 v)
No dia 10 de outubro de 1874, o 2º suplente do juiz municipal solicitou da Câmara
informações sobre a contabilidade do Hospital e foi informado que o encarregado da
obra, Frei Eugênio Maria de Gênova deixou a quantia de cinquenta contos de reis em
caixa do hospital e que esse valor foi entregue ao tesoureiro da mesa administrativa.
Contudo, as obras não tiveram continuidade, achando-se em pleno abandono (...).
(Atas, Livro: 02; Pagina(s): 68, 68).
Como se pode observar, o juiz foi informado da quantia de cinquenta contos de reis deixada na tesou-
raria do hospital, contabilizada pela Câmara. Contudo, as obras foram paralisadas e o hospital abandonado
até o começo do século XX.
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