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barulho muito grande de lataria que    mente feriu o pulso de seu filho, Al-
                          despencou da prateleira. Nada mais.    berto Prata. Sem recursos na fazenda,
                                                                 Sinhá, com uma sovela  de sapateiro,
                                                                                          4
                       AREOLINA CÂNDIDA FER-                     retirou  a  bala  enquanto  repetia  sem
                   NANDES PRATA, a avó paterna, era              cessar uma simpatia: “Santa Margari-

                   conhecida como Sinhá. Muito culta, foi        da, não estou prenha nem parida, cure
                   uma das primeiras normalistas formadas        a dor e a ferida”. Retirada a bala, fez
                   em Uberaba no século passado. Falava          os curativos com barbatimão , vinho
                                                                                                 5
                   fluentemente o francês. Nasceu numa           e sagu. Nem sequer inflamou. Todos
                   pequena fazenda, em Santa Maria, perto        gostavam muito de suas simpatias e ela
                   de Uberlândia. Veio para Uberaba para         sabia centenas delas.

                   estudar, com mais duas irmãs, Maria-             Em fevereiro de 1946, apesar de es-
                   na e Rita. Formou-se em Magistério e          tar doente e debilitada, consentiu que
                   casou-se depois. Neca e Sinhá tiveram         lhe tirassem uma foto desde que esti-

                   nove filhos, entre eles, Alberto Prata,       vesse acompanhada de seu neto, o Pa-
                   pai do Padre Prata. Seus três últimos         dre Prata. Na única foto de sua vida, o

                   filhos – Adélia, Álvaro e Álvaro – fale-      padre a tomou nos braços e assim che-
                   ceram ainda crianças . Ela se vestia com      garam ao quintal de sua casa, de onde
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                   muita simplicidade, sempre de cinza e         conseguiram registrar aquele momen-

                   preto. Não usava nenhum tipo de ador-         to. Ela gostava de fumar charutinhos
                   no e a sua saia lhe caía nos tornozelos.      baratos. Comprava-os na vendinha

                   Apesar de não ser frequentadora assídua       do Zé Amâncio. Já estava agonizando
                   da Igreja, era muito religiosa e praticava    quando, para espanto de todos, pediu
                   o que hoje se chama “religião popular”,       o charutinho. Consultado o seu médi-

                   ancestral, de base cultural. Fazia novenas    co, Dr. Mozart Furtado, foi-lhe conce-
                   como  toda  a família. Queimava palha         dido. Tirou meia-dúzia de baforadas,
                   benta. Acendia velas. Plantava cruzes por     sorriu e morreu.

                   toda a parte e fazia muitas promessas.
                       Baseado nas crenças populares con-        4    A sovela é uma ferramenta utilizada
                   seguiu extrair uma bala que acidental-        em curtumes e marcenarias que é usada para
                                                                 fazer um furo no couro, por onde, posteriormente
                                                                 uma  linha com agulha será  adentrada  para
                   3    Naquela época, muitas crianças não atingiam   costura.
                   a idade adulta. A penicilina e os antibióticos, que   5  Barbatimão é uma  planta  medicinal,
                   evitariam muitas mortes  por infecção, somente   também conhecida como barba-de-timan, casca-
                   foram comercializados regularmente no final da   da-mocidade, e ubatima, muito usada pelas suas
                   década de 1940.                               propriedades cicatrizantes e bactericidas.

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