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ASPECTOS DO CARNAVAL EM UBERABA
João Eurípedes de Araújo
Luiz Henrique Caetano Cellurale
A origem do Carnaval no mundo é controversa. Alguns historiadores afirmam que teve início na Anti-
guidade (período da história contado a partir do desenvolvimento da escrita, mais ou menos 4.000 anos a.C.,
até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 da era Cristã).
Nessa época, nas festas consideradas pagãs cultuavam-se os deuses com permissão para uma altera-
ção na ordem social. Acontecia a inversão na qual escravos e servos assumiam os lugares dos senhores e a
população aproveitava para se divertir.
Segundo o historiador Georges Balandier:
“O Carnaval permanece sempre um meio de liberação e de expressão
popular. No Brasil, é dos grandes rituais nacionais; ele se opõe, em sua liberdade, sua
espontaneidade, seus excessos, suas manifestações, à cerimônia política da Semana da
Pátria e às ritualizações constrangedoras da Semana Santa. ele se reporta a um tempo
que não é nem o da história e nem o do ciclo litúrgico, ao tempo indefinido do sagrado
difuso, do sobrenatural, do imaginário. Ele procede por inversão: substituindo o dia pela
noite, o domínio privado pela rua, a medíocre condição real pelo papel desempenhado
na identificação de grandes personagens. Ele metamorfoseia o universo social das
cidades, abertas as procissões das Escolas de Samba e as danças. Por meio de disfarces, o
Carnaval dá vida a figuras marginais ou imaginadas, estranhas à sociedade brasileira atual.
Ele transtorna as classificações sociais ao azar dos encontros e da insólita conjunção
dos personagens imitados. Ele cria uma ampla comunidade temporária, onde tudo
se torna possível, onde as hierarquias e as convenções da vida ordinária se dissolvem.
Ele libera na brincadeira e na farsa, indo até a licença; ele dá lugar à improvisação, à
invenção desenfreada. O Carnaval brasileiro dá a impressão de uma sociedade onde
os cortes sociais, as desigualdades, os poderes estão temporariamente expulsos. Ele
mostra uma sociedade fraterna e festiva debaixo da que regula rigorosamente a vida
cotidiana, e através desta ilusão contribui para a aceitação desta última. Ele a revigora
periodicamente, pelo reinado da “fantasia” em desempenho às vezes levado até o
transe, pelo movimento resultante de todas as liberações individuais. Como constata
R. da Matta, o Carnaval “fala” de uma mesma estrutura social, ilustradas pelos grandes
rituais nacionais, engrandecendo a ordem, seus valores, seus códigos, suas hierarquias;
mas ao contrario: ele inverte o sistema de papéis e de posições que classificam os
indivíduos, para melhor consolida-los em seu lugar “depois do fim do rito”. (BALANDIER.
1982. p. 55 e 56)
Para alguns estudiosos, o Carnaval começou na Babilônia através das comemorações das Saceias.
Nesses festejos, concedia-se a um prisioneiro o direito de assumir a identidade do rei por alguns dias, sendo
morto no final da comemoração.
Com a ascensão do Cristianismo as festas pagãs ganharam novos contorno. O Carnaval tornou-se uma
oportunidade dos fiéis de retirarem a carne em sua alimentação por motivação religiosa. Por isso, a palavra
carnaval tem origem no latim carnis levale que significa “retirar a carne”.
CARNAVAL NO BRASIL
O Carnaval no Brasil surgiu com o entrudo trazido pelos portugueses no período colonial. Este consistia
em uma festa popular que se realizava por alguns dias, em que os brincantes jogavam uns nos outros: farinha,
baldes de água, limões de cheiro, luvas cheias de areia etc.
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