Page 405 - Uberaba-200 anos no coracao do Brasil
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MISSÃO CRULS
A EXPEDIÇÃO QUE PASSOU POR UBERABA COM O
OBJETIVO DE ESTABELECER O MARCO
PARA A FUNDAÇÃO DE BRASÍLIA
João Eurípedes de Araújo
Luiz Henrique Caetano Cellurale
Marta Zednik de Casanova
A necessidade de interiorizar a população do Brasil Colônia é mencionada desde o século XVI e a capi-
tal do País foi sugerida pela primeira vez em meados do século XVIII, pelo marquês de Pombal, ou pelo cartó -
grafo italiano, a seu serviço, Francesco Tosi Colombina. A ideia foi retomada pelos Inconfidentes, e reforçada
logo após a chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando esta cidade era a capital do
Brasil.
A primeira menção ao nome de Brasília para a futura cidade apareceu em um folheto anônimo publi -
cado em 1822 e, desde então, sucessivos projetos apareceram propondo a interiorização. O nome de Brasília
foi sugerido em 1823 por José Bonifácio e encaminhado à Assembleia Geral Constituinte do Império.
Para ele, a capital deveria ser transferida para a Comarca de Paracatu, Minas Gerais. Ele sugeriu o nome
de Brasília ou Petrópolis.
QUADRILÁTERO CRULS
Com a Proclamação da República, em 1889, essa preocupação e intenção foi materializada na Consti-
tuição, que estabeleceu para a União a propriedade de uma zona de 14.400 km no Planalto Central, que seria
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oportunamente demarcada para o estabelecimento da sede de governo.
Em 1892, para cumprir a Constituição, Floriano Peixoto nomeou a Comissão Exploradora do Planalto
Central do Brasil, cujo objetivo era iniciar de fato a demarcação do Distrito Federal e o local onde seria cons-
truída a nova capital do País. Foi a primeira iniciativa oficial do governo brasileiro para concretizar a mudança
da capital.
Essa comitiva ficou conhecida por Missão Cruls por ser chefiada pelo astrônomo Luiz Cruls que, na
época, era professor da Escola Superior Militar e diretor do Observatório do Rio de Janeiro, atual Observatório
Nacional. Para cumprir a determinação de Floriano Peixoto, Cruls organizou uma equipe de 21 pesquisado-
res, entre geólogos, geógrafos, botânicos, naturalistas, engenheiros, médicos e higienistas, que seguiram a
Ferrovia Mogiana, do Rio de Janeiro a Uberaba, e depois rumaram ao Planalto Central, percorrendo um total
de 4 mil quilômetros.
Desembarcaram em Uberaba pela linha da Mogiana, mantiveram contatos com Borges Sampaio e co-
nheceram todos os equipamentos utilizados por ele para registrar o clima. O cientista elogiou o trabalho de
Sampaio, especialmente devido ao fato de que de que divulgava todas os conhecimentos aferidos na cidade,
na Revista do Arquivo Público Mineiro, ainda no século XIX.
Depois de Uberaba, percorreram centenas de quilômetros em caminhos rurais, a cavalo e transportan-
do mercadorias por meio de transporte muar. Acampavam em barracas improvisadas.
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