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do Príncipe e dos que o seguem todos de       Camaradas! No momento do grito de
                          espada desembainhadas e anunciando            “Independência  ou Morte”, o cômoro

                          nas feições e no fulgor dos olhares a         do Ipiranga se transformava em altar,
                          gravidade do que se estava passando. E,       não num altar pagão, onde paire o
                          por toda aquela gente, que tem nele os        simbolismo vazio de falsas divindades.

                          olhos em pasmo, exclama Dom Pedro:            Não! Mas num altar venerável onde
                          “Camaradas, as Cortes de Lisboa querem        esplende a santidade da Pátria que é a
                          mesmo escravizar o Brasil, cumpre,            síntese grandiosa de todas as autoridades

                          portanto, declarar a independência:           legítimas, de todos os amores puros, de
                          estamos definitivamente separados             todas as belezas e de todos os encantos

                          de Portugal”. E, desembainhando a             com que Deus se manifesta num pedaço
                          sua espada, brada com, todas as veras         de terra, onde nosso berço, emergindo
                          de seus pulmões: “Independência ou            do além, arremessado pelo Oceano

                          Morte”! Esse grito, como num acesso de        como a concha de nácar, ao cálido sol
                          delírio é muitas vezes repetido e reboa       das praias sorridentes, ancorou na vida.

                          naquelas tranquilas paragens, desde           A Pátria é inseparável de Deus. Se Deus
                          então sagradas por aquela voz. Ordena         se revela, coo de fato se revela nas belezas
                          ainda o corajoso Príncipe: “laços fora”!      da Criação, e se não existem no criado

                          e arranca do chapéu o tope português,         que tanto nos impressionem como as da
                          sendo entusiasticamente imitado por           maior revelação natural da divindade.
                          todos os seus companheiros. Estava            Não se compreende a Pátria sem esta

                          proclamada a Independência do Brasil.         auréola de soberania, que somente a
                          Eram, então, quatro e meia da tarde do        divindade pode emprestar-lhe. Separar
                          dia sete de setembro de 1822. Estava          a ideia da Pátria da ideia de Deus, é

                          realizado o desejo do Brasil. Era o           diminuir a Pátria, é descoroar-lhe a
                          desenlace  do  ideal  pelo  qual  tantos      majestade, é materializá-la, é reduzi-la

                          brasileiros trabalharam e tantos deram        à condição mesquinha dos pousos e das
                          a vida. Estava realizada a aspiração          querências dos irracionais, que também
                          máxima do povo brasileiro: ver-se livre,      se afeiçoa à terra onde floresce a árvore de

                          trabalhar pela grandeza do Brasil. Que        seus ninhos, e aos mares onde o rochedo
                          reagisse Portugal. Encontraria aqui o         natal lhes sorri por entre a grinalda

                          coração patriota do brasileiro pronto         branca e vaporosa das espumas do
                          para dar seu sangue em defesa de sua          glauco Oceano. Não será assim do povo
                          independência.                                brasileiro:  deste  povo  que  nasceu  da



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