Page 127 - Rev Memorias_Pe Prata_2
P. 127
do Príncipe e dos que o seguem todos de Camaradas! No momento do grito de
espada desembainhadas e anunciando “Independência ou Morte”, o cômoro
nas feições e no fulgor dos olhares a do Ipiranga se transformava em altar,
gravidade do que se estava passando. E, não num altar pagão, onde paire o
por toda aquela gente, que tem nele os simbolismo vazio de falsas divindades.
olhos em pasmo, exclama Dom Pedro: Não! Mas num altar venerável onde
“Camaradas, as Cortes de Lisboa querem esplende a santidade da Pátria que é a
mesmo escravizar o Brasil, cumpre, síntese grandiosa de todas as autoridades
portanto, declarar a independência: legítimas, de todos os amores puros, de
estamos definitivamente separados todas as belezas e de todos os encantos
de Portugal”. E, desembainhando a com que Deus se manifesta num pedaço
sua espada, brada com, todas as veras de terra, onde nosso berço, emergindo
de seus pulmões: “Independência ou do além, arremessado pelo Oceano
Morte”! Esse grito, como num acesso de como a concha de nácar, ao cálido sol
delírio é muitas vezes repetido e reboa das praias sorridentes, ancorou na vida.
naquelas tranquilas paragens, desde A Pátria é inseparável de Deus. Se Deus
então sagradas por aquela voz. Ordena se revela, coo de fato se revela nas belezas
ainda o corajoso Príncipe: “laços fora”! da Criação, e se não existem no criado
e arranca do chapéu o tope português, que tanto nos impressionem como as da
sendo entusiasticamente imitado por maior revelação natural da divindade.
todos os seus companheiros. Estava Não se compreende a Pátria sem esta
proclamada a Independência do Brasil. auréola de soberania, que somente a
Eram, então, quatro e meia da tarde do divindade pode emprestar-lhe. Separar
dia sete de setembro de 1822. Estava a ideia da Pátria da ideia de Deus, é
realizado o desejo do Brasil. Era o diminuir a Pátria, é descoroar-lhe a
desenlace do ideal pelo qual tantos majestade, é materializá-la, é reduzi-la
brasileiros trabalharam e tantos deram à condição mesquinha dos pousos e das
a vida. Estava realizada a aspiração querências dos irracionais, que também
máxima do povo brasileiro: ver-se livre, se afeiçoa à terra onde floresce a árvore de
trabalhar pela grandeza do Brasil. Que seus ninhos, e aos mares onde o rochedo
reagisse Portugal. Encontraria aqui o natal lhes sorri por entre a grinalda
coração patriota do brasileiro pronto branca e vaporosa das espumas do
para dar seu sangue em defesa de sua glauco Oceano. Não será assim do povo
independência. brasileiro: deste povo que nasceu da
125